Como Dar os Primeiros Passos Para Ser Um Consumidor Sustentável?

por Ricardo Lopes

Cada um de nós procura ser o melhor de si mesmo, incluindo no que consome. No entanto, a forma como sempre fomos impactados e estimulados a consumir, nas últimas décadas, e mesmo o modo como a nossa qualidade de vida imediata depende da gestão de custos e valorização do fator preço leva a que tenhamos dificuldade de incorporar um consumo sustentável na nossa vida. E o desconhecimento sobre o que é ser um consumidor sustentável também.

Assim, é legítimo questionarmo-nos: como posso começar a ser um consumidor sustentável?

Neste artigo vamos apresentar o que é um consumidor sustentável e 3 dicas para que inicie este caminhofugindo às sugestões relacionadas com a poupança de água e eletricidade em casa, que já todos vimos e são importantes, mas não alinham com o conteúdo do Green Purpose.

 

 

Ser Um Consumidor Sustentável

O primeiro facto para o qual deve estar alerta, no que se refere a um consumo sustentável, que é o oposto de um consumo desenfreado, é que 20% da população mundial é responsável por 80% do consumo global. Ou seja, um consumidor sustentável pondera não apenas o que consome, mas se consome. A um nível um pouco mais adiantado, extremado se assim o pretendermos definir, para a fase de maturidade em que estamos, pode ver o documentário “Minimalism: a documentary about the important things”, da Netflix. Se retirar uma ideia para aplicar, já estará a dar passos para ser um consumidor sustentável.

Uma das áreas onde é mais imperiosa esta ponderação (“será que necessito mesmo?”) é na moda. O fast fashion – pode perceber melhor no que consiste na entrevista a Maria Beatriz Costa que para conseguir responder a uma necessidade de consumo cada vez mais acelerada e a baixo custo, tem impactos ambientais e sociais elevadíssimos. O que, felizmente, já tem acontecido é um aumento da preocupação dos consumidores sobre as questões ambientais. Levando inclusive a que grandes marcas de fast fashion criassem linhas sustentáveis,  que, atenção, não é o mesmo que serem sustentáveis.

Porque a sustentabilidade tem 3 pilares: ambiental, social e económico, como a Inês Ribeiro da BoG – Environmental Consulting nos explica em entrevista.

Em paralelo à resposta das marcas de fast fashion, surgem cada vez mais marcas de slow fashion, que respeitam todos os princípios da sustentabilidade e são uma excelente opção para compra de roupa com maior durabilidade.

 

consumidor sustentável - slow fashion

 

Outro ponto é perceber o que implica um consumo sustentável, para que se possa tornar um consumidor sustentável. E é comprar:

Além disto, é importante compreender um conceito chamado value for money, que é o custo-benefício de uma compra. Normalmente, os produtos sustentáveis têm um custo superior, mas que se deve a alguns fatores que devem ser ponderados no momento da tomada de decisão. Nomeadamente:

  • Não tem economias de escala, que são obtidas com grandes volumes de produção. No fundo, permitindo aumentar as vendas, mas sem mexer nos custos fixos – como empregados, fornecedores de matérias-primas, etc, que se tornam reféns – e assim obterem maior rentabilidade de cada venda, mesmo com preços baixos.
  • As matérias-primas são mais escassas e sujeitas a tratamento, que têm um custo, mas asseguram uma maior sustentabilidade do planeta;
  • Durabilidade, que é obtida em consequência das melhores matérias-primas utilizadas, bem como de processos muito mais manuais e especializados do que as economias de escala;
  • Apoio à economia local e ambiente, por serem produtos na sua generalidade produzidos localmente, sem recurso a países de terceiro mundo onde os valores pagos pela mão de obra são muito baixos e que levam a longas e variadas viagens pelo mundo dos produtos, até chegarem a si com uma forte pegada ambiental;

Em forma de conclusão, o consumidor sustentável tem presente, em todos os seus momentos de compra, estas questões:

  • Preciso mesmo? Não poderei reutilizar algo que tenha?
  • Quais as matérias-primas utilizadas neste produto?
  • Quem fabricou? Foi remunerado justamente?
  • Quando deixar de usar, o que posso fazer com este produto?
  • O custo-benefício deste produto é ajustado?

 

 

Dicas Para Dar os Primeiros Passos Como Consumidor Sustentável

 

consumidor sustentável - partilha

#1 – Não seja fundamentalista.

Se pretender, imediatamente, ter um consumo absolutamente imaculado, encontrará frustrações e levará a que se culpe e perca a motivação. Lembre-se que existiu um consumo irresponsável e generalizado durante muitos anos, tendo sido o que nos trouxe ao ponto atual, pelo que qualquer mudança que faça entrará em choque com muitas das suas rotinas. Não será fácil. Tente inspirar-se nas dicas para mudar hábitos de consumo e vida da psicóloga Ana Rita Freitas.

#2 – Troque o fast pelo slow

Na comida o consumo desenfreado de carne tem levado a prejuízos ambientais muito superiores a andarmos de carro, como podemos ver no documentário Cowspiracy da Netflix ou na Grande Reportagem da SIC, do dia 02/01/2021, em que se apresentam os prejuízos do tipo de alimentação que temos, bem como soluções inovadoras para reduzir o impacto ambiental da produção de carne e pescas. Mas para começar com passos mais pequenos, pode seguir as dicas da Sara Oliveira, autora do livro Saudável e Sem Desperdício ou lendo a entrevista do Professor Duarte Torres sobre a Snood Food, os snacks com leguminosas.

Ainda na alimentação, olhar com mais atenção para os rótulos é fundamental para compreender o tipo de produto que está a comprar e se ele é saudável, para si e para o ambiente. Aconselhamos vivamente a que leia a entrevista à Milene Rodrigues, com o título “Sabe Ler Rótulos?”. Ficará muito mais alerta para a importância dos rótulos no nosso consumo.

Na moda, antes de comprar, pondere mesmo se necessita e, necessitando, adote marcas de slow fashion ao invés de fast fashion. São mais caras, em muitos casos, mas um dos pressupostos do slow fashion é garantir uma maior durabilidade do produto. Sabe o que é slow fashion? Está tudo explicado na entrevista à Inês Vaz.

#3 – Partilhe

É verdade, se optar por partilhar mais coisas, desde boleias a participar em trocas de roupa, estará a dar um enorme passo para ser um consumidor mais sustentável. O exagero é que nos trouxe ao ponto de rutura em que estamos. Reduzi-lo é dar passos para melhorar.

 

 

Conclusão  

Os primeiros passos são desafiantes, mas possíveis. Não falamos, num primeiro momento, de grandes mudanças de estilo de vida, mas sim de pequenos passos.

  • Pondere se precisa do que vai comprar
  • Analise as origens do produto e o seu rótulo
  • Opte por qualidade e durabilidade em vez de quantidade e preços baixos

Com estes 3 fatores, já se começou a tornar um consumidor sustentável.

Artigos Relacionados