Manuel Mota e Beatriz Maio falaram com a Green Purpose sobre as alterações climáticas que têm ocorrido, o impacto que têm no mundo e como a EY tem apoiado as empresas para reverter essa situação.
Como surge a necessidade da EY criar Assessoria em Alterações Climáticas e Sustentabilidade?
Manuel Mota (MCM): No mercado há vários anos, e reconhecida entre os pares pelo seu domínio em matéria financeira, a EY tem naturalmente desenvolvido um conjunto de serviços que vão para além destas fronteiras, e que vertem uma leitura atenta e dedicada das necessidades de mercado e das tendências.
Da urgência de ação em temáticas como Alterações Climáticas e Sustentabilidade, surgiu a linha de serviço CCaSS – Climate Change and Sustainability Services, que reflete em simultâneo o compromisso institucional da EY nesta área, mas também, e sobretudo, a forma de contribuímos, enquanto agentes de ação, para uma melhor comunicação de informação não financeira, para um mundo mais sustentável e uma sociedade descarbonizada. A linha de serviço existe em Portugal desde 2014 e conta com uma equipa experiente e multidisciplinar, que ligada a uma rede alargada (+1400 colaboradores) a nível global, permite aprovisionar em qualquer momento a melhor solução para o nosso cliente.
O propósito da EY “Building a better working world” guia-nos em tudo aquilo que fazemos. O trabalho que desenvolvemos com os nossos clientes não é exceção, procurando contribuir para um tecido empresarial mais responsável e preparado para enfrentar os desafios que se colocam às organizações nas áreas da sustentabilidade e alterações climáticas.
As empresas desempenham um papel fraturante ao nível das alterações climáticas, como pretendem ajudá-las a adotar boas (ou melhores) práticas de negócio nesse sentido?
MCM: O combate às alterações climáticas há muito que deixou de ser exclusivo das agendas governativas. As organizações têm um papel ativo e indiscutível neste desafio, e é cada vez mais notória a sua preocupação: na compreensão do impacte das suas atividades no clima, bem como, na forma como devem ajustar a sua atividade perante a transição climática.
Além disso, investidores, parceiros e clientes procuram hoje de forma mais assertiva compreender a abordagem das empresas face ao tema das alterações climáticas, designadamente quanto às ações previstas e implementadas, que possam contribuir para o objetivo global de redução de emissões.
Consideramos que, para que as empresas compreendam o que precisam efetivamente de fazer, é fundamental a realização de um diagnóstico. Muitas vezes as empresas chegam até nós com a ideia de desenvolver determinado projeto, mas sem um entendimento sólido do seu ponto de partida e das reais necessidades nestas temáticas. Ao realizar um diagnóstico, esse projeto que, por vezes, até despoletou o primeiro contacto demonstra que há um caminho mais prioritário a fazer. E é na compreensão e desenho desse caminho que a EY apoia diferentes entidades.
Numa época em que a preocupação ambiental é cada vez maior, sente que as empresas procuram cada vez mais este tipo de serviços?
MCM: Não é só a preocupação ambiental, mas a sustentabilidade como um todo. Nos seus vários pilares, e que são fundamentais para garantir o desenvolvimento de negócios sustentáveis, devidamente alinhados com as expectativas dos seus stakeholders (internos e externos).
As empresas procuram cada vez mais apoio na compreensão e definição da melhor estratégia, que lhes permita dar resposta e antecipar riscos e oportunidades que a temática possa trazer aos seus negócios. A legislação que as empresas têm de seguir ao nível da sustentabilidade é cada vez maior.
Qual a maior dificuldade em conduzir uma empresa a diminuir a sua contribuição para as alterações climáticas?
MCM: É verdade que as orientações legais estão cada vez mais exigentes. Este ano, a Comissão Europeia publicou uma proposta de Diretiva sobre o Reporte de Sustentabilidade Corporativa ou Corporate Sustainability Reporting Directive (CSDR), que exige que todas as empresas partilhem informação não financeira de forma mais direcionada, fiável e facilmente acessível, de modo a suportar a tomada de decisões sustentáveis.
Para Portugal, esta nova diretiva aumentará de forma substancial, o número de empresas abrangidas, já a partir de 2023 e introduz a obrigatoriedade de proceder à verificação independente dos relatórios de sustentabilidade. O que, aliás já se verifica em alguns países europeus.
A resposta a esta nova diretiva será uma oportunidade para aumentar a transparência do tecido empresarial nacional, dotando também decisores políticos e o setor financeiro de informação clara e comparável sobre o desempenho das empresas nos vários pilares da sustentabilidade, que se têm tornado alvo de uma maior análise e existem já muitos mecanismos de financiamento associados a critérios ESG (Environmental, Social & Governance).
À medida, que as organizações vão ter de ir dando resposta a necessidades crescentes de divulgação de questões ambientais, sociais e de governança incluindo-se riscos climáticos e o seu impacto, é expectável um maior escrutínio por parte dos diversos stakeholders com relação à sua robustez e plenitude, incluindo a preocupação crescente com o chamado “greenwashing”.
Mas as “regras” não se prendem apenas com legislação. Os próprios mercados, investidores e consumidores estão cada vez mais alertas para estas questões e para o impacto que as suas escolhas – investimentos e escolhas de consumo – têm no planeta.
As empresas têm de encontrar o melhor equilíbrio e a EY Portugal pode apoiar neste processo. É fundamental que se olhe também para as oportunidades que estas alterações impõem. Abordar a sustentabilidade na estratégia de desenvolvimento de negócio das empresas traz várias vantagens, desde o desenvolvimento de novos produtos, melhoria do posicionamento em relação à concorrência e também a manutenção da reputação.
Quais são as grandes alterações climáticas e que impactos terão num futuro próximo?
Beatriz Maio (BM): Existem evidências de que as emissões de gases com efeito de estufa são responsáveis pelo aumento da temperatura, resultando em alterações climáticas de origem antropogénica. Segundo o último relatório do IPCC, os últimos cinco anos foram os mais quentes desde que há registo. Este aquecimento global tem consequências diretas ao nível do degelo e aumento do nível dos oceanos, na desertificação, na alteração do regime das chuvas e inundações, e, cada vez mais, na perda de biodiversidade.
Os eventos climáticos extremos, que são resultado das alterações climáticas, afetam em especial o setor primário, e podem conduzir a uma escassez e incerteza nas cadeias de abastecimento do retalho, por exemplo. Se pensarmos no caso da energia, o abastecimento pode chegar a ser interrompido na sequência destes eventos. Estes são apenas alguns exemplos de setores que deverão agir mais rapidamente.
A EY tem acompanhado diversos clientes e temos observado uma compreensão crescente da importância de as empresas serem agentes ativos no combate às alterações climáticas. É fundamental reduzir as emissões de forma acentuada, mas também preparar estratégias de reposta e adaptação. Ao analisarmos informação publicamente disponível, por exemplo submetida ao CDP – Disclosure, Insight, Action, percebemos esta ação já não é vista pelas empresas apenas como um tema de comunicação ou reputação, temos assistido a uma mudança neste aspeto e atualmente uma larga maioria das empresas a nível global classificam esta ação como urgente e estão já a definir estratégias de atuação.
Como podem as empresas mitigar os riscos inerentes a esta problemática?
BM: Em primeiro lugar, conhecendo e caracterizando esses riscos. Há poucas empresas que têm conhecimento sobre riscos climáticos e como podem estes, efetivamente, impactar o seu negócio.
Atualmente, verifica-se a necessidade de uma maior transparência na divulgação de informação sobre os riscos decorrentes das alterações climáticas. Embora tenha havido uma evolução positiva, há ainda melhorias que as organizações podem fazer a este nível. Aliás, de acordo com a última edição do Global Climate Risk Disclosure Barometer da EY – que contou com a participação de mais de 1100 empresas e com informação pública coligida pela EY relativamente a 40 empresas portuguesas, apenas 41% das empresas avaliadas presta informação climática com base numa efetiva análise de cenários climáticos.
Mais do que nunca, é fundamental analisar os riscos climáticos de uma forma integrada. E, também, suportar esta análise com ferramentas de cálculo e cenarização que permitam informar a gestão e posicionar as operações diretas e a cadeia de valor no longo prazo. Só conhecendo esses riscos é que será possível definir e adotar estratégias de mitigação. Na EY temos vindo a apoiar empresas neste conhecimento e análise dos riscos. Não só riscos climáticos, mas também outros riscos ESG e na definição de estratégias de resposta aos riscos.
Para além da Assessoria em Alterações Climáticas e Sustentabilidade, estão presentes ou contribuem para mais algumas iniciativas nesse sentido?
MCM: A globalidade da própria EY e a forma como as equipas internacionais, que abordam as questões de Alterações Climáticas e Sustentabilidade, interagem e trabalham em conjunto são garantia de partilha de conhecimento e de aprendizagens que resultam dos diferentes projetos que fazemos. Na EY, apostamos no desenvolvimento contínuo de conhecimento. E como, naturalmente, o estágio de maturidade destas questões e a forma como as próprias empresas abordam é diferente de país para país, garantimos sempre que há o envolvimento dos melhores especialistas da nossa rede nos projetos.
Outra iniciativa que gostava de destacar é o EY Ripples, que é o nosso programa que tem o maior destaque nas ações de sustentabilidade da EY Global e da EY Portugal, em particular. Este programa abrange vários tipos de iniciativas, como por exemplo módulos de sustentabilidade, literacia financeira e empreendedorismo lecionados em escolas nacionais; apoio a gerações futuras, em particular o apoio na entrada no mercado de trabalho, para estudantes universitários, e também mães solteiras/vítimas de violência doméstica; ou ainda o apoio a empreendedores na expansão do seu negócio. Globalmente, a EY espera até 2030 impactar 1 bilião de vidas.
BM: Recentemente estivemos presentes na COP26, a cimeira das Alterações Climáticas das Nações Unidas, que teve lugar no mês passado em Glasgow, o que nos permitiu acompanhar as negociações e os temas-chave para atuação futura por parte de países e empresas.
Ao nível de iniciativas nacionais, a EY Portugal faz parte do BCSD Portugal, o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, permitindo-nos participar em grupos de trabalho e ganhar um maior entendimento das preocupações e desafios das empresas.
Além disso, acompanhamos de perto o desenvolvimento das iniciativas internacionais, por exemplo ao nível de Science-based Targets, uma iniciativa global que tem como objetivo promover junto das diferentes entidades a definição de metas de redução de emissões alinhadas com a ciência.
Quais os próximos passos para a EY na ótica da sustentabilidade?
MCM: A EY tem demonstrado uma forte capacidade de acompanhamento do mercado e atualização face aos temas que afetam as organizações dos vários setores. E esse é o nosso modus operandi. Crescemos com cada um dos nossos clientes e fortalecemos relações de confiança.
Queremos continuar a apoiar de forma sólida os nossos clientes (atuais e futuros), conferindo-lhes as ferramentas necessárias para a melhor resposta ao mercado, garantindo um desenvolvimento sustentável dos seus negócios e promovendo impacte positivo para os seus stakeholders, a sociedade e o ambiente.
Para saberem mais sobre a atividade do CCaSS, visitem o nosso site https://www.ey.com/pt_pt/climate-change-sustainability-services ou entrem em contacto através do email sustentabilidade@pt.ey.com
Manuel Mota
É o líder da área de Climate Change & Sustainability Services da EY Portugal, Angola e Moçambique. É também Revisor Oficial de Contas.
Possui uma licenciatura em Gestão de Empresas pela Universidade Lusíada de Lisboa, frequentou o Programa de Desenvolvimento em Liderança pela Universidade Católica Portuguesa, o programa EY Harvard Leadership e mais recentemente o Programa EY Transformative Leadership series.
Beatriz Maio
É Senior Consultant na EY Portugal, equipa de Climate Change and Sustainability Services. Tem desenvolvido a sua atividade profissional em consultoria, com foco em alterações climáticas, onde participa e acompanha projetos de política climática (nacional e internacional), projetos para a descarbonização e apoio à participação de empresas em iniciativas internacionais ligadas ao clima.
É licenciada em Geologia, com especialização em Recursos Naturais, pela FCUL, pós-graduada em Engenharia e Gestão de Energias Renováveis, pelo ISEL e possui formação Executiva em Gestão de Programas e Projetos, pelo ISCTE Executive Education.