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As águas do Vimeiro são reconhecidas por todos os portugueses, nomeadamente no segmento de água com gás. Mas fomos mais longe. Entrevistámos Diogo Abreu, CEO da Empresa das Águas do Vimeiro (EAV), para saber o que diferencia a água do Vimeiro, o que têm feito em relação aos plásticos, quais as tendências dos consumidores nessa área e até que efeitos teve a pandemia no negócio. Não perca.

O que faz das Águas do Vimeiro um produto único? Quais são os seus fatores diferenciadores?

As Águas do Vimeiro têm atualmente um portfólio único e incomparável em Portugal que vai desde as águas com gás às águas sem gás e desde as águas minerais naturais às águas de mesa.

Contudo, é na Vimeiro Original, a água mãe que dá origem a todas as águas minerais naturais do portfólio, que está a diferenciação. Por ter uma mineralização muito elevada (mais de 1000 mg/L), esta água mineral natural é verdadeiramente diferente de todas as restantes no mercado, composto, na sua grande maioria, por águas com reduzida mineralização e pH ácido. Esta composição da Vimeiro Original, fruto dos seus aquíferos naturais, é bastante importante e benéfica para a saúde. Para além dos sais minerais essenciais, ao contrário da maior parte das águas em Portugal, a Água Vimeiro Original tem um pH alcalino, algo que é hoje bastante valorizado pelos consumidores. Aos bebés, pela riqueza em bicarbonato e pH, auxilia o processo digestivo e alivia as cólicas típicas. É também uma água que tem muito cálcio e, por isso, o seu consumo é bastante indicado para pessoas seniores. A estas características soma-se uma série de outros atrativos e componentes que se revelam muito importantes para quem, por exemplo, pratica desporto uma vez que consegue, de forma natural e eficaz, repor os sais minerais gastos ao longo da prática desportiva e neutralizar o ácido láctico.

Não é por acaso que a Águas do Vimeiro tinha como slogan, ainda bem presente na mente de muitos: ‘A saúde está primeiro. Beba água do Vimeiro’. Isso tinha uma razão de ser. Sabemos que existem, claramente, benefícios desde logo por bebermos água e, ainda mais, se escolhermos uma água mineral natural, a melhor bebida a incluir na dieta, inteiramente desprovida de quaisquer produtos e tratamentos químicos. Acreditamos que temos, efetivamente, um produto único e distintivo.

Em Portugal são líderes no segmento das Águas com Gás em PET. Os consumidores estão cada vez mais em alerta para a questão do impacto dos plásticos no ambiente. Notam este comportamento no vosso negócio?

Notamos que, felizmente, existem mais consumidores atentos à questão da sustentabilidade e à preservação do meio ambiente mas não notamos ainda que haja uma alteração de comportamento no momento da compra dos nossos produtos apesar do portfólio das Águas do Vimeiro apresentar os seus produtos em garrafas PET e garrafas Vidro – à exceção da Vimeiro Original que só existe em garrafas PET mas cujo cenário acompanhará esta tendência muito em breve. Mas de facto não vemos aumentar as vendas de vidro em detrimento do PET.

Para além desta preocupação da marca em disponibilizar as suas águas também em garrafas de vidro, trabalhamos essencialmente no sentido de consciencializar para a importância da reciclagem e da correta colocação das embalagens usadas nos respetivos ecopontos. A preservação do ambiente depende da atuação de cada um de nós. Esta é uma questão importante no que toca ao impacto dos plásticos no ambiente e à sua presença nos oceanos, por exemplo.

 

Dado que a sustentabilidade é um dos vossos principais valores que iniciativas têm vindo a desenvolver para mitigar esta questão dos plásticos?

Ao longo dos anos e de toda a nossa atividade industrial e comercial, temos vindo a esforçarmo-nos para acompanhar as necessidades e promover a melhoria contínua de todo o nosso processo de produção sem nunca, em momento algum, descurar a importância da preservação do meio ambiente.

E é neste sentido que, não sendo possível a eliminação radical do plástico na nossa atividade por diversas razões, contribuímos com o abaixo exposto para mitigar a questão dos plásticos:

  • Disponibilização dos produtos Vimeiro em garrafas de vidro (à data, à exceção da Vimeiro Original);
  • Redução da gramagem de PET utilizado em cada garrafa, mantendo sempre a qualidade das nossas embalagens e garantindo sempre o bom acondicionamento do nosso produto;
  • Utilização de PET 100% reciclável;
  • Automatização e modernização dos processos de produção por forma a diminuir desperdícios;
  • Separação interna dos plásticos de desperdício para reciclagem;
  • Doação de tampinhas/cápsulas de desperdício a associações de solidariedade social.

Para além disto, trabalhamos constantemente junto do consumidor no sentido de consciencializar para a importância da reciclagem. Um trabalho desenvolvido por intermédio das redes sociais, da informação disponibilizada nas embalagens e também por intermédio da aposta em iniciativas e eventos direcionados para esta questão tão importante para nós.

A Empresa das Águas do Vimeiro (EAV) patrocinou a iniciativa «RECICLAR TEM MUITA ONDA» com Vimeiro no Santa Cruz Ocean Spirit. Em que consiste esta iniciativa?

A Vimeiro é patrocinadora oficial do evento Santa Cruz Ocean Spirit há já alguns anos, um evento de desportos de ondas, e com esta questão dos plásticos nos oceanos cada vez mais presente nos noticiários achámos que era o momento ideal para abordar o tema. Criámos então o «Reciclar tem muita onda» onde convidávamos os consumidores a trazerem as suas garrafas de plástico usadas e a reciclá-las connosco na hora.

Por cada garrafa Vimeiro entregue, o consumidor levava um brinde da marca e ainda via a reciclagem acontecer, levando uma prancha de surf (pela temática do evento) ou um pisa-papéis (pela possível utilidade) feitos no momento através das garrafas entregues.

Foi nosso objetivo mostrar não só a reciclagem a acontecer, mas também que é possível darmos novas vidas às embalagens usadas desde que estas sejam colocadas no devido ecoponto.

A EAV preocupa-se com a prevenção de qualquer fonte de poluição proveniente das suas atividades. Em que se traduz na prática?

A atividade industrial da Empresa das Águas do Vimeiro, que diz respeito à captação; engarrafamento e distribuição de águas, não é à partida propensa a grandes emissões de carbono nem requer grandes consumos de energia.

Para além disso, pela atividade que é, não temos associado muitas fontes de poluição. A única que podemos indicar está relacionada com os efluentes das higienizações das linhas e dos silos de armazenamento da água captada mas tal é devidamente direcionado e tratado.

Outra possível fonte de poluição proveniente da nossa atividade poderia estar relacionada com os resíduos físicos que advêm de todo o processo de produção mas também esses são devidamente tratados, segregados por tipologia, cor e tipo de contaminação para facilitar a reciclabilidade dos mesmos com o food grade que se pretende, e encaminhados para gestores de resíduos licenciados por forma a serem reintegrados no circuito.

Para lá das águas, a Vimeiro aposta também no termalismo. Em que consiste a vossa oferta nesta área?

A Empresa das Águas do Vimeiro integra um grupo composto também por hotelaria e termalismo. Tradicionalmente, as Termas do Vimeiro, reconhecidas pelas qualidades terapêuticas da sua água, operam durante o período de verão. Era nosso propósito alargar este período de operação mas, infelizmente, com a pandemia provocada pela COVID-19, e tudo o que esta tem trazido, não nos foi possível efetuar as alterações perspetivadas e, consequentemente, retomar a atividade.

Ainda assim, podemos adiantar que esta nossa oferta consistirá na disponibilização de Tratamento de Bem-Estar e Tratamentos Clássicos (Balneoterapia, Ventiloterapia e Fisioterapia), especialmente indicados para a prevenção e tratamento de várias patologias da pele e dos aparelhos digestivo, circulatório e respiratório.

A zona do Vimeiro é fértil em águas mineromedicinais que se tornaram célebres desde os tempos longínquos, quando a Rainha Santa Isabel e a Infanta Dona Leonor fizeram uso destas nossas águas para tratamento de pele.

 

Com a pandemia existe uma maior procura por ofertas que privilegiam a saúde e a natureza. Tem havido maior procura por este tipo de produto?

Quanto a esta questão, apenas conseguimos responder na perspetiva da nossa atividade no ramo das águas engarrafadas.

E sim, temos assistido a uma maior procura do consumidor por produtos diferenciadores, únicos e que acrescentem algum benefício extra à sua saúde e ao seu bem-estar.

Tal é sentido na EAV quando falamos da Vimeiro Original, uma água mineral natural com um equilíbrio perfeito que combina pH alcalino com sais minerais essenciais para o bom funcionamento do organismo de todos nós. Estas características tão diferenciadoras e únicas no mercado português e os benefícios que esta concede a quem a consome e os reconhece têm feito desta uma água cada vez mais procurada.

Diogo Abreu

Durante muitos anos, com atividade profissional ligada à banca de investimento e aos fundos de investimento foi no final de 2013 que abandonou a atividade no setor financeiro e passou a dedicar-se à reestruturação de empresas, essencialmente, industriais. Em março de 2018 recebe o convite para abraçar o projeto Vimeiro, na sua atividade de Engarrafamento e Distribuição de Águas Minerais. A sua principal missão é tornar a EAV na empresa de referência do sector, com oferta de um produto distinto de qualidade, e contribuir para a satisfação dos vários stakeholders da empresa, com um especial destaque para os seus colaboradores, parceiros e clientes.

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A Quinta Vale da Lama é um lugar tranquilo e sustentável, cheio de ideias características para quem procura descansar em comunhão com a natureza. Entrevistamos Nita Barroca, Diretora da Quinta Vale da Lama, para saber mais sobre este projeto e as suas práticas sustentáveis.

Fale-nos um pouco sobre como nasceu a Quinta Vale da Lama e a sua  história. 

A Quinta Vale da Lama nasceu de um sonho, meu e do meu marido Walt,  de criar um pequeno ecossistema onde pudéssemos aprender, partilhar e  desenvolver uma Quinta sustentável e, paralelamente da necessidade de  encontrar um espaço alternativo para as atividades da associação Projecto Novas Descobertas. Esta associação sem fins lucrativos, criada por mim  em 1994, realizava campos de férias e algumas formações para crianças e jovens na Quinta Santa Barbara em Monchique que ardeu nos incêndios de 2003, ficando assim sem um espaço.

Para vocês “A sustentabilidade não é suficiente”, por isso adotam a agricultura regenerativa. No que consiste e qual o impacto para o ambiente?

Sim, na nossa opinião a agricultura sustentável já não é suficiente é preciso  ir mais profundo e regenerar, restaurar, armazenar o carbono nos solos e voltar a dar vida aos mesmos, pensando sempre nas gerações futuras e não  só na atual.  Manter o carbono nos solos é uma das nossas preocupações.  A agricultura regenerativa preocupa-se com a saúde dos  solos a longo termo.  Para termos alimentos saudáveis temos de criar solos saudáveis. 

Os problemas climáticos atuais são enormes e irreversíveis, abusamos e explorámos o nosso planeta.  Os nossos solos e eco sistemas foram mal tratados com produções de cultivo intensivo e com o uso de químicos que o deterioraram, juntando-se a falta de água.   

Para os regenerar, usamos diversas técnicas: não removemos os solos, ou se o fizermos fazemos o mínimo possível; na produção agrícola não termos solos nus, que secam mais rápido, é importante cobri-los com matéria orgânica; plantamos todos os anos árvores e arbustos no Outono para criar bio diversidade; não usamos químicos; temos certificação bio nas nossas hortas de vegetais e falta um ano para os pomares serem certificados; fazemos compostagem, bokashi e vermi-compostagem, usando em cada uma destas técnicas restos orgânicos (das nossas casas e do nosso restaurante vegetariano), dos restos da produção de vegetais quando os preparamos para vender nos dois mercados de Lagos, trituramos os restos orgânicos da quinta como das podas das arvores, da vinha e arbustos; não fazemos queimadas; fazemos muitos dos nossos bio fertilizantes; temos uma floresta comestível, com imensa diversidade e densidade; recriamos os nossos solos para os mesmos poderem reter mais água, com escombros e outras técnicas para reencaminhar a água e diminuir a erosão dos solos; usamos painéis solares para a irrigação; usamos o holistic management temos também muita sorte em ter colaboradores que acreditam na nossa visão e têm bons conhecimentos. 

Adoramos servir os nossos vegetais e frutas no nosso restaurante e com os excedentes dos mesmos produzir as compotas, vinagres, kombucha, piri-piri, kimchi, e muitos outros produtos processados.

O Design de Permacultura é uma abordagem para a concepção de ecossistemas que sejam Eficazes, Eficientes e Ecologicamente Corretos. Como é que isso se reflete na Quinta? 

Quando comprámos a quinta tiramos um curso de Permacultura que foi impulsionador no design dos nossos eco sistemas.  Por aqui também  passaram muitas pessoas com conhecimento nesta área que nos ajudaram  a criar e recriar os nossos eco sistemas.  

A Permacultura tem por base 3 éticas; cuidar da terra, das pessoas e a partilha dos excedentes o que faz todo o sentido para nós e para a nossa visão.  Quando desenhamos os nossos espaços e habitações baseamo-nos  nestas éticas e nos seus princípios. Alguns dos princípios da permacultura  que usamos são: captação e armazenamento de água, valorizar os recursos  renováveis, não produzir desperdícios e valorizar a diversidade. Outro  principio a ter em consideração quando criamos eco sistemas é a observação da natureza e o uso de soluções lentas e pequenas… nisto falhamos por vezes, temos uma quinta grande 42 hectares e nem sempre fizemos as coisas lentamente, o que criou alguns erros ao longo do processo. Também através da permaculura me apercebi da importância da  criação de ciclos fechados e não lineares, tal como na natureza…tudo é re utilizado. 

A permacultura é sem duvida um bom guião para desenhar eco sistemas.

As questões ambientais, nomeadamente de eletricidade, água e resíduos, são um desafio para gerir. Que estratégias internas têm implementadas nesse sentido e que resultados têm obtido? 

Sim, desde a sua construção que o nosso alojamento turístico Casa Vale da Lama Eco Resort foi criado com soluções para dar resposta aos problemas ambientais.  Temos painéis solares -térmicos e fotovoltaicos, tem um posicionamento passivo com bom isolamento térmico, sistema de esgotos com tratamento natural, detergentes e shampos nos quartos ecológicos,  capta a água da chuva com cisterna, charca e aproveitamento de águas para  irrigação de espaços verdes. O aquecimento da casa e dos quartos no  inverno e águas quentes para duches feitos com painéis solares, lareira e  gás natural. A limpeza da piscina é feita através dum processo de salinização.  Não usamos químicos nos nossos jardins.  O nosso restaurante  é vegetariano/vegan “da horta ao prato”, onde chegam os nossos vegetais e  frutas da quinta. Temos mobilias feitas com materiais naturais e “upcycling”.

Mas todos nós podemos repensar o que fazemos e inventar sistemas com  ciclos fechados inteligentes.  Por exemplo a máquina de lavar roupa da  minha casa irriga diretamente alguns dos arbustos do meu jardim. 

E agora que estamos no processo de desenhar o aumento do nosso Eco  resort, com um restaurante maior, mais quartos e espaços de sala de aula, estamos a estudar métodos mais inovadores, eficientes e eficazes para  atingir o standard de carbono zero e adicionar soluções para medir a nossa  pegada ecológica de maneira transparente.

O sistema de Pastoreio Holístico é um método para reconduzir as  pastagens e os animais de pasto que co-evolveram com eles para uma relação mutuamente  benéfica. Explique nos melhor este conceito e quais os benefícios do mesmo. 

Admiramos muito este sistema de Allan Savory, que o mesmo criou observando como os animais se movimentavam no seu habit natural… O  importante é não manter os animais no mesmo local durante muito tempo,  para não sobrecarregar e compactar o solo, e para o eco sistema ter tempo  para se regenerar, e sim move-los no pastorio de forma sistémica, assim  eles ajudam na fertilização dos solos. Na nossa zona de pasto utilizamos  ovelhas nesta forma rotativa, assim como usamos as galinhas neste sistema  entre as nossas arvores de fruto, para ajudar na fertilização dos solos e  retirar as ervas daninhas. É um tractor natural vivo…

 

A Quinta Vale da Lama é, já por si só, um alojamento inteiramente ligado à sustentabilidade. Para além do vosso core business participam em mais  alguma iniciativa que promova a sustentabilidade? 

Vemo-nos como parte integrante dos movimentos globais regenerativos, tais como o Openfood e outros com preocupações na alimentação  local/circular, como a Cooperativa da Terra,  um exemplo local. “Think globally, act locally” é a nossa linha de  pensamento.  

Tudo revolve à volta do que comemos, a nossa prioridade é comida sã que deve vir de proximidade – Sazonal, Local, e Orgânica, (SLO FOOD : ).  No nosso caso quando não produzimos na quinta compramos cada vez mais  aos produtores locais. Também fazemos parte da criação do Vivo Mercado de Lagos, um mercado preocupado na produção local sonhando que um dia  todos os seus produtores e vendedores tenham produção orgânica. 

A educação é a nossa grande paixão daí cedermos o espaço na nossa quinta à associação Projecto Novas Descobertas que trabalha com crianças,  jovens e adultos na consciencialização e educação para a Regeneração. O  trabalho com as escolas é fundamental para a regeneração do futuro de todos nós humanos e da terra. Adoramos ver as crianças e jovens a passear pela nossa quinta, conectando-se com a natureza. 

Também em parceira com a associação Projecto Novas Descobertas, outras  instituições e pessoas locais realizamos dias abertos e campos  regenerativos para servir a comunidade local com actividades educativas,  culturais e regenerativas. 

Nita Barroca

Tem 59 anos, é portuguesa, Assistente Comunitária, com curso tirado em Toronto, onde viveu com o Walt nos primeiros anos de casamento. Apaixonada pela educação, regeneração e inclusão em harmonia de todos os eco sistemas. É, atualmente, diretora na Quinta Vale da Lama.

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Patrícia Pereira, fundadora da Pera Lima, conta-nos como cresceu o seu projeto de moda comprometido com questões de sustentabilidade ambiental e que está ligado a memórias de infância.

Como surgiu e o que consiste a Pera Lima?

A Pera Lima surge da vontade de voltar a pintar, depois de ter voltado repentinamente de Moçambique, por causa da pandemia. Deixei o trabalho que desenvolvi durante 10 anos em Moçambique, na área têxtil, para voltar ao meu país de origem, Portugal. Esta foi a condição que me levou a reencontrar com minha área de formação: a pintura.

No entanto, o projeto que pretendia desenvolver era uma pintura que pudesse ser vestida. Uma pintura que não se limitasse a estar pendurada numa parede, uma pintura que pudesse não apenas tocar e sensibilizar mas também com a qual as pessoas se pudessem identificar para além de um exercício de pura contemplação.

Sempre acreditei no potencial do diálogo, no poder de comunicação da pintura, sempre considerei que a pintura deveria existir com um propósito , neste caso contar uma história. 

Não queria criar algo que falasse apenas consigo mesmo ou com os seus semelhantes, que fosse auto-referencial; que a linha não fosse apenas uma linha e a mancha apenas uma mancha, mas sim um esboço de uma história, uma memória, uma temática terrena, simples e humana e que a sua razão de ser pudesse ir para além da sua mera condição estética.

Neste sentido, e porque o projecto surge e desenvolve-se inicialmente em torno da pintura, ele acaba por ter menos a ver com fazer moda, e mais com a criação de uma arte vestível. É em torno desta vontade que surge a Pera Lima.

Produzem vestuário contemporâneo consciente, empenhado em questões ambientais e de sustentabilidade. De que forma contribuem para diminui a pegada ecológica?

Era claro, desde o início,  que só fazia sentido trazer uma nova marca para o mercado da indústria têxtil se ela fosse seriamente comprometida com questões de sustentabilidade ambiental.

Fazer a qualquer custo, parecia ter um retorno muito menos positivo. Todos os materiais e procedimentos que escolhemos são regidos por estes critérios de respeito ambiental, por isso só  trabalhamos com tecidos certificados, com menor impacto ambiental, como é o caso do algodão orgânico e dos tecidos reciclados e priorizamos uma gestão responsável e sustentável dos recursos naturais. 

 

De que forma a produção dos produtos é sustentável? Não em relação ao produto final, mas sim em relação à produção completa do produto.

Acreditamos que desenvolver um produto sustentável tem que cumprir três requisitos e que estes têm que estar articulados: um produto que respeite o ambiente, resistência e qualidade que fazem com que o produto possa ter um ciclo de vida mais longo, que se traduz, idealmente, numa redução gradual do desperdício e do impacto ambiental. O nosso objetivo é posicionar a nossa marca e os nossos produtos dentro de um discurso de consumo mais consciente.

Além disso, a sustentabilidade é igualmente importante a nível humano, pautamo-nos pelo respeito e pela promoção dos direitos humanos e trabalhistas, dignificando o trabalho, segundo os parâmetros do Comércio Justo. Neste seguimento, trabalhamos preferencialmente com produção e matérias-primas nacionais, pois encaramos a responsabilidade económica como um compromisso local e, para representar esta visão, recorremos a um ditado Africano: “se num lugar te deitas, acordas e dele vives, é a ele que deves devolver e lhe deves a vida”.

Trabalham com materiais 100 % portugueses. Sente que os clientes valorizam?

 Sim, o cliente da Pera Lima é um cliente com um perfil sensível à arte, só comprometido com questões ambientais também com o significado do ato da sua compra.

 

Lançaram recentemente uma coleção que está muito ligada com a natureza e a infância. Fale-nos um pouco sobre isso. 

Lançamos a nossa marca com três estampagens, que as consideramos cada uma delas coleções cápsulas.

Estas coleções são memórias visuais de três histórias que resultam de um exercício de regresso à infância, uma ode à inocência, à doçura e simplicidade com que as crianças sentem e experienciam o mundo, resgatando memórias sensoriais dos lugares onde cresci. Procurei dar forma a sensações tão intangíveis como doces, como o cheiro das amoras, a brisa do mar, a chegada das andorinhas anunciando a Primavera, ou ainda os utópicos e inocentes intentos de salvar os animais ou de construção de uma casa na árvore.

 Esta viagem foi feita através de um retorno aos processos tradicionais, explorando diferentes linguagens plásticas como o desenho, a pintura e a aguarela, cujos resultados foram posteriormente estampados digitalmente em média e larga escala. 

Quais os próximos passos para este projeto?

Neste momento estamos a desenhar as próximas coleções. Estamos a estruturar parcerias com outros criativos, é nesta forma de trabalhar que acreditamos para o futuro da marca. Estamos a trabalhar em colaboração com escritores e outros ilustradores. Queremos que a nossa marca não se limite apenas a uma linguagem , a uma só forma de fazer, acreditamos na diversidade plástica como identidade da marca. A internacionalização da marca é também um dos desafios a que nos propomos para 2022.

Patrícia Pereira

Licenciada em Artes Plásticas- Pintura pela Faculdade Artes da Universidade do Porto e Mestre em Arte e Design para o Espaço Público, pela mesma Instituição. Em 2011, mudou-se para Moçambique e aqui criou a sua empresa que se desenvolveu em duas frentes: customização de vestuário de alta costura e formação de mulheres desempregadas.

Feminista de convicção, o seu imaginário é fortemente influenciado pela vida natural, pelo gosto pela aventura e histórias. Viajar , comer, conversar e desenhar são as suas paixões.

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Entrevistamos Jorge Ribeiro, Design Manager na Givaware, sobre o inovador doseador álcool gel portátil feito a partir de materiais reciclados desenvolvido pela Givaware e comercializado pela Kuski.

Kuski é uma loja de produtos sustentáveis desenvolvida pela Givaware. Como surge esta ideia?

A Givaware nasce em 2018 e desde aí tem trabalhado em vários projetos ligados à sustentabilidade e à transição para uma economia circular. Temos colaborado com empresas de setores diferentes no desenvolvimento de novas soluções de produtos e materiais sustentáveis. Como estúdio de Design de Produto, temos a noção de que a sustentabilidade já não é um elemento de diferenciação, mas sim um elemento estrutural na estratégia de negócios, sujeito à validação dos clientes, utilizadores e legisladores.

A nossa luta diária foca-se na aprendizagem e antecipação das novas necessidades para um futuro mais saudável para a humanidade e no desenvolvimento de novas soluções inovadoras para corresponder a esses desafios através do Design.
Acreditamos que o Design tem um papel fundamental para impulsionar os agentes para a mudança de paradigma que vivemos, através de modelos de negócio centrados na economia circular.

O desenvolvimento de produtos próprios para o consumidor final, faz parte da nossa estratégia desde o princípio, mas ainda não tinha surgido a oportunidade para desenvolvermos e apresentarmos um produto próprio. O dispensador aparece como uma necessidade e uma oportunidade para concretizarmos esse desígnio. A Kuski será a plataforma de apresentação e comercialização desses produtos que são desenvolvidos pela Givaware e que no fundo espelham a nossa abordagem ao Design.


Desenvolveram um doseador álcool gel portátil feito a partir de materiais reciclados. Fale-nos um pouco sobre isso.

Durante a pandemia apercebemo-nos da quantidade de material que era descartado com a necessidade urgente de nos protegermos através de equipamentos de proteção individual como máscaras, luvas e embalagens de álcool gel, o que nos levou a estudar esse problema e procurar soluções que o mitigassem.

Foi a partir daí que surgiu o conceito deste produto que tem um princípio de circularidade, onde os resíduos gerados durante a pandemia, seriam usados num produto para proteção face à COVID 19.


Quais os materiais utilizados para a produção deste produto que o torna sustentável?

Sabendo que grande parte dos resíduos gerados pelo descarte de EPIs são incinerados e que desse processo resultam as escórias de incineração, começamos por estudar uma forma de transformar as escórias num novo material com potencial de ser aplicado em novos produtos, através da sua combinação com um material termoplástico, também ele reciclado e reciclável.

Esta combinação de materiais (escórias + material termoplástico) representa uma abordagem sustentável em vários níveis, não só pelo facto da reciclagem das escórias que iriam para aterro e a utilização de um termoplástico reciclado e reciclável, mas também pela capacidade de reforço que as escórias assumem no material, permitindo que o produto seja mais duradouro, prolongando assim a sua vida útil.

Não é somente a escolha de materiais que torna o produto sustentável, mas sim o processo escondido de inovação centrado no Design. Ao longo do processo, houve uma combinação de decisões que convergiram num produto com características que o tornam sustentável, desde a inovação no material reciclado e reciclável, a redução de componentes e fácil desmaterialização do produto, a capacidade de ser reutilizável, o serviço associado que permite ao consumidor devolver o produto para que a Kuski o possa reciclar e também a importância das questões estéticas do produto que estabelecem uma relação emocional com o utilizador, influenciando-o a preservar o produto na sua posse o máximo de tempo possível. Tudo isto é o Design a funcionar.

Procuram os melhores materiais, mantendo-os num ciclo fechado e assumindo um compromisso com o planeta. Qual o processo de fabrico que adotam que permite isso?

Neste caso também não é só a questão do processo de fabrico que permite isso, mas todo o processo de inovação associado. Foi através de um longo processo de engenharia que desenvolvemos um material que partiu de um conceito de circularidade para utilização de um resíduo que não tinha sido ainda explorado como um bom recurso. Nesse processo, fomos explorando várias tecnologias e processos de fabrico onde este resíduo pode ser utilizado e neste caso do dispensador, utilizamos a tecnologia de injeção de plástico.

A questão de manter o ciclo fechado, além do material e o processo de fabrico, é o serviço associado onde a Kuski assume a responsabilidade da reciclagem, com a recolha dos produtos que podem ser devolvidos pelos consumidores.


Como tem sido a adesão por parte das pessoas ao doseador álcool gel portátil?

Apesar de ser recente a presença do produto no mercado, o doseador tem sido muito bem recebido pelas pessoas, principalmente pelo conceito à sua volta. É importante referir que este produto foi pensado para se transformar na sua utilização, ou seja, além desse objetivo inicial para ser utilizado com álcool gel, pode também ser utilizado para outros produtos, como champô, gel de banho, cremes, etc. Os próximos passos na comunicação serão transmitir essa mensagem.

Quais os próximos passos para este projeto Givaware/Kuski?

Neste momento, a Givaware continua a colaborar com empresas no desenvolvimento de novas soluções de produto, tanto a nível nacional como internacional e paralelamente está a trabalhar no desenvolvimento de uma linha de produtos para crianças com uma abordagem pedagógica e com um forte impacto social, em parceria com a Sociedade Ponto Verde. Brevemente surgirão novidades acerca deste projeto que será ele também distribuído pela loja Kuski.

Para o futuro, continuaremos a procurar desafios e oportunidades de inovação, através do nosso processo de Design focado na economia circular, desenvolvendo novos produtos sustentáveis e que façam sentido na vida das pessoas.


Jorge Ribeiro
Designer de produto focado no impacto sustentável e social.
É licenciado em Design de Produto pela ESTG do Instituto Politécnico de Viana do Castelo e frequentou o curso de Mestrado em Design de Equipamento na FBAUL.
Passou por várias empresas da indústria nacional, com forte presença no mercado internacional. Neste momento assume a posição de Design Manager na Givaware, liderando o processo de desenvolvimento de produtos sustentáveis através de uma estratégia focada na Economia Circular.

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Falámos com Rita Andrade Soares, CEO da Herdade da Malhadinha Nova, um projeto de turismo com alojamento que nasce com a recuperação de uma ruína do Monte da Peceguina, uma unidade com 10 quartos dedicada a proporcionar experiências inspiradas no Vinho, na Gastronomia e na cultura e tradições locais.

Fale-nos um pouco sobre a história da Herdade da Malhadinha Nova e o conceito a ela associado. 

A Malhadinha Nova é um projeto familiar, iniciado em 1998 com a compra de uma propriedade abandonada no baixo Alentejo, numa das zonas menos povoadas da Europa. O conceito transversal a todas as áreas de negócio da Herdade centra-se na preservação das características endógenas da propriedade e no desejo imenso de preservar este espaço singular, de o melhorar através do desenvolvimento de atividades diversas, sempre com a enorme aposta na qualidade e com o objetivo de deixar um legado.

O projeto inicia com a plantação dos primeiros 20 hectares de vinha, com a construção de uma adega e culmina hoje com várias áreas de negócio desenvolvidas na propriedade, toda ela em produção biológica certificada, auto suficiência em vinho e azeite, ambos produzidos a partir das vinhas maioritariamente de castas portuguesas existentes na propriedade; azeitonas 100% de variedade galega de Olival tradicional; a produção agrícola e a pecuária através da criação das raças autóctones, Vaca Alentejana, Porco Preto e Ovelha Merina, todas elas de denominação de origem protegida (DOP); e da criação do cavalo Puro Sangue Lusitano. 

O projeto de turismo com alojamento nasce com a recuperação de uma ruína do Monte da Peceguina, uma unidade com 10 quartos dedicada à comercialização de experiências inspiradas no Vinho, na Gastronomia e na cultura e tradições locais. Culmina, mais recentemente, com a recuperação de todas as ruínas existentes nos 450 hectares da propriedade, nas quais hoje se oferecem 26 quartos espalhados por cinco diferentes unidades hoteleiras, onde mais uma vez se proporcionam experiências criativas e inovadoras com respeito pela natureza, pelo tempo, num espaço único, como expoente máximo do Luxo.

Que experiência pretendem proporcionar a quem visita o alojamento? 

Todas as experiências que proporcionamos na Malhadinha são desenhadas à medida de quem nos visita, pelas mãos de uma equipa criativa e dedicada, inspiradas em diversos temas, tais como o vinho, o pilar central, a gastronomia, a cultura, a aventura, o desporto, o romance, o bem estar, entre outros, sendo que o limite do que queremos criar e proporcionar é a imaginação . 

De que forma a sustentabilidade está presente na Herdade? 

A sustentabilidade está presente transversalmente:

Desde o início do projeto, o projeto HMN (Herdade da Malhadinha Nova) de imediato se transformou também no enorme desafio de manter a sustentabilidade e o equilíbrio natural  de uma propriedade singular, nunca antes agredida por explorações exaustivas de solos através de adubações químicas e/ou usos de pesticidas ou plantações de qualquer monocultura intensiva, ou ainda alvo de qualquer especulação imobiliária que facilmente teria levado à edificação de centenas ou milhares de metros quadrados de construção para garantia de uma sustentabilidade económica fácil de encontrar. 

A preservação de um ecossistema perfeito constituído por montado de azinho, olivais tradicionais, searas de trigo, aveia e cevada e pradaria natural, a preservação e recuperação das edificações seculares existentes na propriedade, rapidamente se transformaram num objetivo primordial. 

Surgem assim, antes das primeiras plantações de vinha, a exploração de forma sustentável de todo este gigantesco potencial através da aquisição de diversas espécies animais tais como os animais de denominação de origem protegida.

Todo o potencial de exploração das terras da Malhadinha passou de um estado de total abandono de há décadas para uma utilização de todos os recursos naturais  de forma absolutamente sustentável a todos os níveis:

  • Económico – (rentabilidade garantida em todas as áreas de exploração): o enorme investimento na qualidade e na exclusividade do produto, na primazia da imagem, na excelência do serviço, transportaram a marca MALHADINHA para um reconhecimento e consolidação nos mercados nacionais e internacionais que garantem o escoamento total dos artigos produzidos.

  • Social – (criação da empresa em 1999 com dois trabalhadores da região, pessoal efetivo atual superior a 70 pax sendo mais de 80% da região): utilização na recuperação e construção de todos os edifícios de boa parte de materiais tradicionais tais como a terracota e os azulejos fabricados por artesãos da região, madeiras da região e carpintarias produzidas por empresas locais.
    A enorme preocupação com a necessidade de partilhar e preservar conhecimento, saberes e tradições resulta num envolvimento das comunidades locais de artesãos, músicos, artistas em todas as experiências promovidas pela HMN na sua atividade turística, tal como em peças decorativas produzidas por estes artesãos e que serão comercializadas nas unidades .
  • Ambiental: a totalidade dos 455 hectares da propriedade convertidos para modo biológico no início de 2017, tratamentos de água realizados em toda a herdade por ETARES BIOLÓGICAS (plantas). Uso eficiente da água, monitorização de todo o gasto de água na propriedade por caudalímetros instalados em todos os pontos de consumo e supervisionado por um parceiro independente (Aquagri) em regime de avença, boas práticas agrícolas, fertilização natural dos solos com utilização de estrume e culturas auxiliares em toda a vinha capazes de aportar azoto ( fava, tremoço, trevo), corte natural das ervas infestantes com recurso a pastoreio das ovelhas em determinadas épocas. A recente aquisição de 10 veículos 100% elétricos para deslocação interna de colaboradores e hóspedes.

  • Energética: garantida em boa parte pela utilização de energia solar em todas as unidades de alojamento da propriedade, pela utilização de caldeiras de aquecimento a lenha proveniente da poda das azinheiras seculares existentes na propriedade, pela recuperação e construção de todos os edifícios com técnicas tradicionais e materiais de elevadíssima eficiência energética, pela aquisição apenas de equipamentos de última geração com eficiência energética máxima.

A participação e integração, desde o início, com grande sucesso no Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo comprovam bem as práticas e a  visão estratégicas da HMN

A cultura alentejana é um aspeto importante para a Herdade da Malhadinha Nova. Como a incorporam no hotel? 

A cultura do nosso país, a cultura alentejana e a história e tradições da região e do passado desta propriedade agrícola são uma enorme inspiração desde o início do projeto, em todas as áreas. Cada casa do projeto hoteleiro inspira-se nas atividades locais do passado, na geologia, na avifauna e flora locais, na natureza da Malhadinha, e em todos os espaços encontramos peças fabricadas por artesãos locais; nas experiências, esses mesmos artesãos vêm partilhar o seu saber e as suas atividade artesanais, através de workshops ou apresentações dos seus trabalhos.

 

Quais são as atividades que disponibilizam para quem visita o vosso espaço? Qual é a que tem maior procura? 

As atividades mais procuradas ou as experiências que mais desenhamos são as dedicadas ao Vinho e Gastronomia, culturais e desportivas, programas em família com o intuito de partilhar a cultura local são cada vez mais procurados, os clientes procuram a Malhadinha para estadias cada vez mais longas, em que a natureza e as preocupações com a preservação do planeta são cada vez mais aspectos que famílias multigeracionais desejam vivenciar. Viajar com um propósito é hoje um dos principais objetivos de quem nos procura. 

Existe uma maior preocupação dos clientes em relação à sustentabilidade? Notam que tal já é um fator que pesa na decisão de escolha? 

Sendo a Malhadinha, na sua essência, um projeto de vinhos, e estando localizada numa região em que a tradição gastronómica é tão rica, já por si é uma das preocupações dos nossos hóspedes. É uma propriedade inserida num ambiente natural com uma diversidade e dimensão considerável, o que a torna também bastante apetecível, sobretudo pelas atividades desportivas e de aventura, as iniciativas e experiências culturais e as viagens com o propósito de conhecer a cultura e as tradições locais. O  tema cultural e o sentido de pertença são cada vez mais procurados. Sem dúvida que a sustentabilidade é uma preocupação crescente dos nossos clientes, e a Malhadinha encontra-se neste momento a desenvolver novas experiências dedicadas à preservação da Natureza e ao potencial deste espaço . Entre outras atividades, dispomos de uma forte colaboração com o Centro de Conservação da Natureza, de maneira a poder dar a conhecer as espécies de avifauna, através de materiais criativos de comunicação e apresentação das variadas espécies protegidas.

A Malhadinha está dentro de uma das zonas mais importantes do país para a criação e o desenvolvimento de espécies de aves em vias de extinção. Dar um exemplo a outros projetos para que se desenvolvam de acordo com os mesmos princípios  e valores, preservar e melhorar um espaço natural único e deixar um legado são as nossas principais motivações. 

Rita Andrade Soares

Nasceu em Lisboa, a 4 de Julho de 1972. Em 1993 inicia a colaboração na gestão do negócio da Garrafeira Soares, em conjunto com o seu marido João Soares e o irmão Paulo Soares. Em 1998 Adquire uma propriedade no Alentejo de 450 hectares, com o objetivo de produzir vinhos de elevada qualidade. Em 2007 inaugurou o Restaurante Gourmet da Malhadinha, e em Fevereiro de 2008, O Country House & Spa, um hotel de charme. Inicia, em 2012, uma “joinventure” no algarve com a produção de vinhos, Quinta do Convento do Paraiso. Em 2015 lança-se como autora na área do ENOTURISMO com a obra “ Portugal Wine & Lifestyle”. É responsável pela organização de um dos eventos mais mediáticos em Portugal na área dos vinhos e das bebidas espirituosas “ Algarve Trade Experience”.  Autora de vários artigos de Turismo para várias publicações entre elas, Forbes Magazine e Revista Vilas e Golf.

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Madalena Rugeroni, Country Manager da Too Good To Go Portugal e Espanha, uma aplicação onde podemos adquirir comida que iria ser desperdiçada em vários estabelecimentos por todo o país, falou connosco sobre o combate ao desperdício alimentar.

Como surgiu a ideia de importar a Too Good to Go para Portugal?

A Too Good To Go é uma empresa de impacto positivo que foi criada em 2016 na Dinamarca, por um grupo de empreendedores, quando numa ida a um restaurante buffet se aperceberam da quantidade de comida em óptimo estado que é deitada fora. Alimentos demasiado bons para ser desperdiçados, por isso, ficou imediatamente claro que tinham que fazer algo. Foi assim que uniram forças para criar uma solução simples que permitisse a todos tomar uma ação para reduzir o desperdício, adquirir comida de qualidade e apoiar as empresas locais. Hoje, a Too Good To Go é uma empresa com selo B Corp, e a aplicação está presente em 17 países, na Europa, EUA e Canadá. A expansão para Portugal deu-se em Outubro de 2019, e a adesão tem sido muito positiva e crescente, já contamos com uma comunidade de 1 Milhão de utilizadores (gostamos de pensar que atualmente 10% dos portugueses estão na nossa aplicação) e cerca de 4000 parceiros, disponíveis de norte a sul do país e ilhas (Madeira e Açores). 

Qual a maior dificuldade em implementar a Too Good to Go?

A velocidade de crescimento de uma empresa como a Too Good To Go é um grande desafio, que exige foco e estratégia, principalmente em dois grandes aspectos, na preservação dos nossos valores e cultura, pois são o que nos permitiu crescer rapidamente, sem perder a essência de quem somos e razão pela qual estamos aqui. Logo para a Too Good To Go é essencial garantir que a equipa e a cultura estejam a crescer com a empresa. Uma das formas de garantirmos esse equilíbrio é através do nosso departamento de People & Culture, que atua de forma local com enquadramento global, em cada país onde temos operações. E, acima de tudo, um equilíbrio entre a oferta e procura na nossa App, pois queremos garantir que cada vez mais pessoas e estabelecimentos podem contar com a nossa solução, como uma ferramenta útil, simples e acessível, que lhes permite ter um papel ativo no combate ao desperdício alimentar, como forma de consumo mais consciente.

 

Qual o impacto que a Too Good to Go teve no ambiente?

Em Portugal, através da nossa aplicação já foram salvas mais de 1 milhão de refeições, o que representa cerca de 2500 toneladas de CO2e. A nível global, somando os 17 países onde a Too Good To Go está disponível (Europa, EUA e Canadá) já foram salvas mais de 110 Milhões de refeições, um total de 275.000 toneladas de CO2e.

“Desperdiçar menos” é suficiente ou é necessário que se diminua a produção alimentar?

O desperdício alimentar é um dos principais emissores de CO2, responsável por cerca de 8% das emissões mundiais de gases com efeito estufa. O que se torna ainda mais absurdo, ao sabermos que cerca de 1/3 de tudo o que produzimos é desperdiçado. Um em cada três alimentos acaba no lixo. Já para não falar que 28% da terra agrícola é usada para produzir alimentos que não chegam sequer a ser consumidos. Por isso, se conseguirmos ser mais conscientes do que compramos e consumimos, garantindo que nada se desperdiça, isso vai também criar um efeito positivo não apenas a jusante, como também a montante da cadeia de valor. 

 

Como tem sido a adesão por parte das pessoas e das empresas?

A adesão e motivação das pessoas, seja enquanto utilizador ou parceiro, à app da Too Good To Go, tem sido incrível. Cada vez mais pessoas percebem e reconhecem o benefício da solução que apresentamos, seja para otimização do seu orçamento familiar ou do seu negócio, e principalmente para a preservação dos recursos do planeta. Até à data, em Portugal, já contamos com uma comunidade de 1 milhão de utilizadores, incrível principalmente se pensarmos que a Too Good To Go chegou a Portugal em finais de 2019. Estamos muito orgulhosos do caminho que percorremos juntos, com parceiros e utilizadores.  

Qual o próximo passo para este projeto?

Pretendemos disponibilizar a nossa solução a cada vez mais restaurantes, minimercados, supermercados, pastelarias, padarias, pequenos produtores, distribuidores, entre muitos outros estabelecimentos da área alimentar. Tornar a nossa solução e mensagem relevantes e com impacto junto de autoridades com poder para alterações profundas ao longo de toda a cadeia de valor. Nomeadamente poder legislativo. E incentivar e capacitar o consumidor para a importância do seu papel nesta missão conjunta e para o impacto das suas escolhas diárias. Pequenas mudanças de comportamento podem fazer uma grande diferença!

 

Para além do vosso core business, participam em mais alguma iniciativa de Sustentabilidade?

A nossa missão, enquanto modelo de negócio com propósito e de impacto social, é precisamente sensibilizar as pessoas, assim como toda a esfera pública e privada, para a importância e urgência no combate ao desperdício alimentar. Contudo esta é uma luta coletiva, em que todos têm de fazer o seu papel, desde o início da cadeia de produção até ao consumidor. A app da Too Good To Go apresenta-se como uma ferramenta de impacto direto, uma solução tangível, acessível e simples, que possibilita tanto a consumidores, como negócios parceiros, terem um papel mais ativo no combate ao desperdício alimentar. Mas, faz também parte da nossa visão estratégica o investimento em projetos que permitam um impacto mais indireto, ou seja, através da dinamização de várias iniciativas de sensibilização e educação que desenvolvemos, paralelamente ao nosso marketplace, quer sejam com um foco em empresas, agregados familiares, escolas ou governos. O nosso objetivo é o de contribuir para um mundo com zero desperdício alimentar e, esse, deve ser um objetivo comum. 

Madalena Rugeroni

Madalena Rugeroni é uma empreendedora de gema. Formou-se em Relações Internacionais e Comunicação nos Estados Unidos e trabalhou em diversas empresas como a Google, Young & Rubicam e Havas Media Worldwide. Tendo duas grandes paixões, tecnologia e comida, acabou por regressar a Portugal ao fim de sete anos em cinco diferentes cidades – Madrid, Lisboa, Londres, Nova Iorque e Miami – para fundar a sua startup e ser mentora de várias outras. Foi daí que nasceu o Misk, uma plataforma que personaliza a experiência gastronómica dos seus utilizadores e lhes permite encontrar recomendações tendo em conta o seu círculo mais chegado de amigos. Em 2019, a Madalena abraçou um novo desafio como Country Manager e líder da Too Good To Go em Portugal e Espanha e mostra como podemos ser foodies e salvar o mundo ao mesmo tempo.

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A ideia de que a saúde do planeta é tão importante como a saúde humana está a ganhar volume e a sustentabilidade é a sua força motriz. A ameaça crescente das alterações climáticas juntamente com a pandemia global da COVID-19 fez com que as tendências da sustentabilidade se acelerassem rapidamente, e estamos a ver cada vez mais energia a ser colocada na procura de soluções duradouras para moldar o nosso futuro.

Aqui estão algumas tendências de sustentabilidade a ter em conta em 2022:

Aumento do investimento nas questões ESG

O investimento está a ser orientado cada vez mais por considerações ESG, em portugês ASG (Ambiental, Social e Governança). Acionado pela COVID-19, o investimento nas questões ASG tem tido um impulso e espera-se que assim continue. Este enfoque crescente não só obriga as empresas a serem mais abertas sobre o seu impacto ambiental.

 

Energia renovável

Já lá vão os dias em que os combustíveis fósseis são a fonte de energia mais rentável. 

A COVID-19 causou uma queda nos preços do petróleo que tornou as energias renováveis muito menos competitivas e atrasou os trabalhos em certos projectos solares e eólicos em 2020.

No entanto, as energias solar e eólica tornaram-se as duas fontes de energia mais resilientes devido às medidas de encerramento da COVID-19. Enquanto a produção de electricidade para todas as outras fontes de energia diminuiu entre 2019 e 2020, a energia solar e eólica registou um aumento estimado de 1,6% no consumo final.

De acordo com um novo relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), dos combustíveis eólicos, solares e outras energias renováveis que entraram em funcionamento em 2020, quase dois terços (62%) foram mais económicos do que o combustível fóssil novo mais barato. A reforma das dispendiosas centrais de carvão não só poupará milhares de milhões de dólares às economias emergentes, como também impedirá a emissão de cerca de três gigatoneladas de CO2 por ano. Isto é 20% da redução de emissões necessária até 2030 para evitar a catástrofe climática.

Espera-se que a mudança para as energias renováveis continue, uma vez que a ação para reduzir as emissões de carbono continua a ser uma prioridade para as empresas, consumidores, investidores e governos. Segundo a Euromonitor International’s Voice of the Industry: Sustainability Survey, 2021, 42,3% dos profissionais afirmaram que a sua empresa está a investir ou planeia investir na mudança para as energias renováveis.

Compensação de carbono

Apesar das enormes melhorias na qualidade do ar nas zonas urbanas e industriais durante os bloqueios da COVID-19, a poluição atmosférica continua a ser um problema crescente a nível mundial, devido a uma rápida recuperação após o primeiro pico da pandemia.

Com as preocupações sobre a poluição ambiental a aumentar globalmente e a ameaçar a saúde pública, um número crescente de empresas está a prometer descarbonizar as cadeias de abastecimento, logística e carteiras, criando oportunidades de inovação em produtos, serviços e tecnologias limpas.

A compensação de carbono tem a ver com a substituição ou redução das emissões de carbono. Normalmente, as empresas de altas emissões financiam projectos que ou evitam a emissão de gases com efeito de estufa (GEE) ou removem os GEE. Estes projectos podem variar desde a plantação de árvores até à implantação de tecnologia para a captura de emissões de carbono. Com o enquadramento das regras do mercado de carbono, os emissores com baixas emissões de carbono irão cada vez mais explorar o mercado de compensação de carbono.

 

Economia circular

Passar de um mundo linear para um mundo circular é não só uma forma de dissociar o crescimento económico da utilização de recursos e evitar desperdícios desnecessários, mas também um poderoso instrumento para reduzir as emissões e combater as alterações climáticas.

A economia circular, que estava a ganhar peso antes da pandemia entre consumidores e empresas, foi negativamente afectada pela COVID-19. Em Junho de 2021, cerca de um quinto dos profissionais relatou uma pausa ou atraso nas iniciativas relacionadas com o desperdício e a reciclagem. Euromonitor International’s Voice of the Industry: Inquérito de Sustentabilidade, 2020 já tinha destacado atividades como o aluguer e a compra de produtos em segunda mão que estavam a ser gravemente afectados pelo surto.

Escassez de recursos, volatilidade de preços, danos ambientais, redução de custos e benefícios reputacionais são fortes motores para uma maior transição para a economia circular. 

De net-zero a positivo para o clima

As nações e empresas comprometidas com a neutralidade climática estabelecerão mais cedo ou mais tarde os objetivos climático-positivos ou carbono-negativos. 

Grande, médias e pequenas empresas têm se esforçado para atingir uma economia net-zero até 2050, ou seja, equilibrar a quantidade de gás com efeito de estufa produzida com a quantidade retirada.

Embora se espere que a redução das emissões e a remoção do dióxido de carbono tenha impacto positivo no aquecimento global, é necessária uma positividade climática para enriquecer o ambiente a fim de inverter a degradação.

É possível que as empresas consigam ultrapassar este objetivo, e, para além de atingirem a neutralidade climática, removam mais gases com efeito de estufa do que os que emitem.Esta é a única forma de garantir um clima seguro para as gerações futuras.

 

Transparência das empresas quanto aos seus riscos climáticos

Para que haja progressos reais, as empresas e organizações precisam de ser transparentes quanto aos seus impactos ambientais. Estamos a começar a ver muito mais estados e cidades em todo o mundo a exigir que as empresas informem sobre as suas emissões e utilização de energia, bem como sobre o seu impacto social. Estas informações incluem as emissões de GEE, os resíduos e a utilização de água, e também o impacto ambiental dos produtos ao longo do seu ciclo de vida. O fraco desempenho social e ambiental poderia levar ao encerramento de organizações inteiras, mostrando ao mundo que uma ação climática insuficiente não é brincadeira. Responsabilidade, credibilidade e maior transparência é o futuro dos negócios.

 

Veículos eléctricos 

Enquanto a Índia procura alcançar a sua visão de veículos 100% eléctricos até 2030, haverá pressão sobre a indústria para obter a sua matéria-prima de forma responsável. A maior questão será superar o desafio de obter eletricidade a partir de fontes renováveis para carregar os veículos.

A sustentabilidade é o “novo normal”

Hoje em dia, parece que em quase todo o lado que olhamos, vemos produtos de consumo sustentáveis a substituir os seus homólogos tradicionais. Da produção alimentar e da moda aos produtos de estilo de vida, uma mudança inegável está a aumentar. É seguro dizer que a procura de produtos sustentáveis por parte dos consumidores tornará a sua produção obrigatória nos próximos anos, o que demonstra que nos estamos a tornar uma população mais eco-consciente.

Uma análise global de 2021 encomendada pelo World Wildlife Fund (WWF) e conduzida pela Economist Intelligence Unit (EIU) revelou que a popularidade das buscas de produtos sustentáveis na Internet em todo o mundo aumentou de forma espantosa 71% em apenas cinco anos. Este relatório foi conduzido em 54 nações do mundo, tanto em desenvolvimento como desenvolvidas. As pessoas falaram.

 

O tele-trabalho vem para ficar

É conveniente para muitos empregados e é também benéfico para o ambiente, uma vez que reduz as deslocações e os veículos na estrada e também a utilização de energia nos edifícios de escritórios, reduzindo assim as emissões. É uma situação vantajosa para os empregados e empregadores, bem como para o planeta. O trabalho a partir de casa vai continuar e tornar-se permanentemente institucionalizado como parte de um modelo de trabalho híbrido mais aceitável.

Base de dados

Com o foco na sustentabilidade, os dados abrirão portas não só para uma economia de baixo carbono, mas também para mostrar resultados aos reguladores, investidores e outros intervenientes. A análise de dados está cada vez mais detalhada e torna-se possível medir, gerir, registar e mostrar os resultados e atuar em conformidade com os mesmos de forma a minimizar o impacto ambiental das empresas.

 

Regulamento mais rigoroso

A regulamentação para a redução de emissões torna-se mais exigente e o cumprimento das medidas de combate às alterações climáticas é cada vez mais rigoroso à medida que avançamos e que os prazos do processo para uma economia net-zero se aproximam. 

 

Fontes: Positive Earth; Outlook India Magazine Online; Euromonitor International

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Alojamento, localizado em Olhão

Este é o nosso segredo: uma casa de família que se abre ao turismo, numa terra quase desconhecida, virada para o mar, no coração do Parque Natural da Ria Formosa, eleita uma das 7 Maravilhas de Portugal. Somos suspeitos se afirmarmos que da Casa Modesta se contempla o melhor despertar do Algarve… Daqui, assistimos à migração das aves, à prática dos mariscadores, à recolha do sal. E, todos os dias, nos espantamos com os pequenos milagres da natureza.

 

A Chegada

Fomos recebidos pelo Carlos Fernandes, um dos proprietários da Casa Modesta, que rapidamente nos demonstrou que o alojamento é modesto, mas somente de nome (de família). Sofisticação, história e natureza coabitam no espaço, inserido no Parque Natural da Ria Formosa, uma das Sete Maravilhas de Portugal, com uma vista irrepetível.

 

Na Casa Modesta sentimo-nos inspirados a mergulhar num Algarve diferente do que ficou mundialmente conhecido, que se resumia às praias.

 

Birdwatching, acompanhar mariscadores e ir a viveiros de ostras são apenas algumas das experiências disponíveis na Casa Modesta, onde se estende a preocupação de divulgar a história e cultura algarvia, mais especificamente do Sotavento e da Ria Formosa, ao uso dos produtos locais, quer nos materiais de construção quer nos alimentos cultivados e divulgados no espaço, através das refeições e workshops de cozinha algarvia. Contando sempre com o apoio direto e apaixonado da comunidade envolvente. Um exemplo a seguir, na vertente ambiental e social.

 

Casa Modesta, a história que conta e cria

A história da família e da própria Ria Formosa estão presentes logo à entrada, na sala onde se degustam pratos locais e se realizam workshops de gastronomia típica da Ria Formosa, através de fotos nas paredes, um forno antigo onde ainda se coze o pão ou uma cisterna convertida em garrafeira. No entanto, o que mais se destacou neste momento em que fomos recebidos foi o próprio Carlos Fernandes e a sua paixão pelo que nos contava. Poderia ter sido um privilégio de quem se dirigiu para fazer uma entrevista, mas rapidamente percebemos que não. Todos os hóspedes com que nos cruzámos trataram o Carlos, coproprietário, pelo nome próprio e trocaram breves palavras cúmplices, de quem foi recebido e segue acompanhado na estadia pelo próprio. E isto é o ambiente que se vive na Casa Modesta: familiar, cúmplice e sereno.

O tempo parece regido pelas marés, que o avô Joaquim Modesto de Brito, proprietário da casa na infância dos irmãos Carlos e Vânia, tão bem dominava. Ou não fosse um velho lobo do mar, que acolheu o trabalho e a família nesta casa, com a Ria Formosa a um palmo de olhar. Vista que ainda hoje cria um despertar único, que Vânia Fernandes, irmã do Carlos, tão bem soube explorar no projeto arquitetónico que deu origem à Casa Modesta. Os quartos são autênticas varandas sobre a ria, como o próprio Carlos nos refere: “A paisagem muda ao longo do dia, conforme as marés.” Oscila entre a predominância do azul na maré cheia e o amarelo dos sapais que formam o complexo lagunar da Ria Formosa na maré vazia.

 

 

Os materiais usados na recuperação da casa, onde o Carlos habitou até aos seus dezanove anos, foram todos locais, como barro de Santa Catarina, cal, cortiça e mesmo latão. Tendo as preocupações energéticas sido uma exigência logo na fase de concepção e obra, quando solicitaram e obtiveram a certificação energética A+, da Líder A. Recuperação de tradições locais, como a cabana de colmo, no centro do jardim, que relembra as habitações dos pescadores nas ilhas barreira da Ria Formosa, e que hoje permita uma leitura virada para a Ria, em harmonia com o ambiente, são alguns dos detalhes que fazem deste espaço único.

Questionado sobre o legado da Casa Modesta, Carlos Fernandes refere que se trata de uma casa de memórias de família, impossível de replicar noutro local, mesmo que o negócio corra cada vez melhor. E nós podemos constatar isso na paixão com que o Carlos nos contou que o seu avô, mariscador mas também construtor de barcos em madeira que pintava sempre de vermelho e amarelo, também desenhava. Os desenhos estão, inclusive, expostos na receção, com uma forte inspiração na ria, na faina e nas suas paisagens. O que nos permite mergulhar ainda mais na história da família e perceber porque motivo esta casa é irrepetível noutro local.

 

Existem características e históricas que fazem com que a Casa Modesta só possa existir aqui

 

Refere-nos Carlos, sem esconder o seu orgulho, paixão e respeito pelas tradições. Para isso, muito contribuem as experiências que envolvem a comunidade, como a experiência do mariscador – onde levam pessoas ao viveiro, ver a apanha da ameijoa, berbigão e ostras e como se cultiva o viveiro.

“Tratar de um viveiro é como tratar de uma horta e as pessoas ficam espantadíssimas. Temos que “plantar” as ostras para as “colhermos” depois. Não estamos a inventar experiências. Estamos a ir buscar experienciais reais que são ancestrais e trazem a autenticidade e vivencias locais”.

Outra das experiências são os workshops de gastronomia realizados por Sandra Patrão, chef e vizinha da Casa Modesta, que têm como objetivo não só dar a conhecer as iguarias locais como ensinar a fazê-las. Os pratos vão desde cataplana de marisco, ao litão, xarém, e ao famoso folar de camadas tão típico destas paragens por ocasião da Páscoa. Dos ingredientes destes e outros pratos fazem parte os produtos locais, como marisco, com destaque para os bivalves, como a ameijoa, peixe, laranjas ou amêndoas.

A Casa Modesta acaba por ser um ícone do Sotavento algarvio e que nos recorda que o Algarve tem mais para oferecer do que praia. Este local singular está em perfeita simbiose com a comunidade e dispõe ainda de uma ciclovia colada à ria, onde se experimenta e vive a natureza, respeitando-a e enaltecendo-a. Criando históricas e lembranças únicas, para quem a visita.

A Sustentabilidade integrada no Projeto

 

 

Vânia Fernandes, sócia e arquiteta responsável pelo projeto, conta com uma carreira ligada a projetos que têm uma forte vertente sustentável na sua génese, pelo que a ideia de incorporar a variável ambiental e sustentável num projeto tão pessoal esteve presente desde início, pensando cada detalhe. Um exemplo é a piscina, um antigo tanque, onde a água é tratada por pastilhas de hidrion, um sistema de ionização do cobre, que permite reutilizar a água para a rega das árvores de não fruto, o aproveitamento da luz natural algarvia para painéis solares que asseguram toda a eletricidade do alojamento e a reserva de um espaço para uma pequena horta biológica, onde apenas se plantam produtos locais, que são utilizados nas refeições do espaço. Além destes cuidados, também o plástico foi retirado do espaço, tendo sido estas preocupações reconhecidas internacionalmente, logo no ano de abertura, 2015, com um prémio do Condé Nast Johansen como melhor hotel ambiental. Somando a este prémio outros, como o Architizer, em que a Casa Modesta foi a escolha do júri para melhor hotel, no ano de 2017.

 

Os prémios ajudam a um maior reconhecimento internacional, que apoia na conquista de novos clientes, que cada vez mais se preocupam com a vertente sustentável do conceito na escolha do alojamento

 

Segundo o próprio Carlos, “os prémios ajudam a um maior reconhecimento internacional, que apoia na conquista de novos clientes”, que segundo nos conta o próprio “cada vez mais se preocupam com a vertente sustentável do conceito na escolha do alojamento, mas também com as experiências disponíveis, o que resulta numa cada vez menor sazonalidade e uma diversidade maior de turistas, como norte americanos, belgas, alemães e franceses”. Esta diversificação de públicos é, de resto, um dos grandes objetivos dos proprietários, e que se viu alavancado com o Coronavírus: levar a história do Algarve a cada vez mais pessoas, de diferentes regiões do globo, com a certeza que elas regressam. Temos tido essa prova, com famílias que já nos visitam há três anos seguidos.

Antes de abandonarmos o espaço – conscientes que um dia voltaremos, para um dos melhores despertares do Algarve -, tivemos oportunidade de falar sobre um reconhecimento que está logo à entrada, no portão. A certificação Green Key tem uma importância especial para o espaço, porque tratou-se de um processo de auditoria, que resultou nesta atribuição. Tudo foi avaliado, desde a capacidade de consciencializar para comportamentos mais sustentáveis, reduzir o impacto ambiental nas atividades comerciais até promover a redução e eficiência no consumo dos recursos naturais. Tendo a Casa Modesta passado em todos os pressupostos com distinção, neste reconhecimento mundial da responsabilidade da dinamarquesa Foundation for Environmental Education (FEE), que em Portugal é tutelado pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE).

Por tudo isto, não hesitamos em destacar a Casa Modesta como um exemplo, por demonstrar que a Sustentabilidade poderá não ser apenas um cuidado, mas sim uma fonte de rendimento.

As preocupações com o ambiente, mas também sociais de incluir a comunidade e tradições na vivência do espaço, resultaram num sucesso económico, que faz pensar em aumentar o espaço de alojamento, sem nunca colocar em causa o seu conceito e propósito.

Poderemos levar o nosso conceito a outros locais do Algarve e até do país, mas nunca replicando a Casa Modesta. Ela conta a história da nossa família e do local, não se adapta”, refere novamente Carlos Gonçalves na despedida. E isto, acrescentamos nós, é o que faz deste projeto um exemplo: autenticidade e respeito pelas tradições, natureza e comunidade.

Conheça este projeto único em: www.casamodesta.pt

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