Criada em Portugal, a Ecocubo destaca os produtos endógenos tanto nos materiais de construção – madeira e cortiça – como no mobiliário interior – a cama, colchão e têxteis que são feitos em Portugal.
O cubo funciona como um refúgio na Natureza e catalisador de territórios de baixa densidade. Assume-se, assim, como uma solução de turismo sustentável, sem impacto negativo para o meio ambiente e com impacto positivo para as comunidades locais.
Conversamos com António Fernandes, Arquitecto e fundador da Ecocubo, para saber mais sobre este projeto.
Como surgiu a Ecocubo?
A ideia da Ecocubo começou a surgir uns anos atrás. Sou arquitecto de formação, licenciado pela ESAP em 2010, e na altura, em plena crise no sector, surgiu a oportunidade de emigrar para a Suíça, onde trabalhei na área de hotelaria, em pleno Parque Nacional.
Nos meus tempos livres, adorava percorrer os trilhos pelos Alpes e, ao fim de 3-4h de caminhada para atingir o pico da montanha, tinha muito pouco tempo, para aquilo que queria, para poder contemplar aquela paisagem, e tinha que fazer todo o percurso inverso, montanha abaixo, que por vezes era bem mais difícil que a subida. E foi nessa altura que começou a surgir a ideia de criar um equipamento, uma estrutura que fosse amiga do ambiente que possibilitasse permanecer naquele spot a ver o pôr-do-sol, por exemplo, e no dia seguinte poder seguir viagem para outro local ou regressar. Algo flexível como uma tenda mas confortável como um quarto de hotel, sem qualquer impacto para o meio ambiente, mas que permitisse viver esse tipo de experiências, de maior comunhão com a natureza. Um pouco recuperar a ideia da casa da árvore, dos abrigos de montanha, que eram estruturas simples, que serviam de abrigo, mas que permitiam ter experiências que ainda hoje perduram na memória.
Passado alguns anos regressei a Portugal, apenas com a ideia, um amigo na altura falou-me do UPTEC, o parque de ciência e tecnologia da Universidade do Porto, e foi aí que realmente a Ecocubo passou de uma ideia para a realidade.
A própria marca Eco3 (Ecocubo) foi pensada, não tanto pelo aspecto formal dos cubos que dão suporte à nossa atividade, para mais para simbolizar o trinómio do tipo de experiências que queremos promover, onde as pessoas possam viver, sentir e explorar a natureza ao máximo, neste caso, ao cubo.
A Ecocubo é uma marca comunitária, com designs patenteados, que pretende reflectir sobre novas formas de fazer turismo, que tem vindo a amadurecer as suas ideias e que levou ao conceito que recentemente apresentamos na BTL. O nosso objetivo sempre foi o de proporcionar experiências de imersão na natureza de forma sustentável, possibilitando que as pessoas pudessem ir conhecendo diferentes territórios, cubo a cubo. E para isso, apresentamos na BTL um novo cubo, que é a parte física que dá suporte à nossa atividade, uma estrutura totalmente desmontável, feita de cortiça, que se assemelha a uma tenda em termos de montagem, sem descurar o conforto para que possam desfrutar de uma experiência única na natureza.
A sustentabilidade esteve presente na génese do conceito ou foi um fator que surgiu posteriormente?
Sim, sempre. Desde o início que queríamos contribuir não só para que os amantes da natureza pudessem desfrutar de uma experiência única sem pôr em causa o meio ambiente, mas também poder contribuir, de alguma forma, para as comunidades locais onde temos a nossa oferta disponível.
Por outro lado, sempre quisemos que os nossos cubos fossem feitos em Portugal, usando somente matérias-primas amigas do ambiente.
E estando em Portugal, por exemplo, a cortiça era uma escolha óbvia. Não só por ser 100% natural, e um excelente isolamento térmico, mas também porque sendo natural, se fundia e evoluia como a natureza, e ao mesmo tempo era um símbolo da nossa origem, da Portugalidade da Ecocubo.
Por fim, queríamos trabalhar com empresas portuguesas e promover os produtos endógenos. Tentamos ao máximo que tudo o que usamos, desde o colchão e os têxteis, fossem feitos em Portugal, e isso foi conseguido.
Acreditamos que só assim, trabalhando localmente e com agentes locais, que todos podem sair beneficiados, desde os amantes de natureza que procuram experiências novas, e que cada vez mais têm consciência das suas acções, como dos próprios parceiros locais, onde ao envolver a comunidade, contribuímos para o seu desenvolvimento e da economia local.
A Ecocubo pretende proporcionar uma interação com a natureza de forma sustentável. Quais os materiais utilizados na construção do alojamento?
Não lhe chamaria alojamento…os nossos cubos foram buscar inspiração aos abrigos de montanha, às casas das árvores, e funcionam mais como equipamentos de apoio às nossas atividades, atuando como pontos de referência no território, que possibilitam tanto a observação da natureza como pernoitar em locais improváveis.
Para isso, e por estarmos na natureza, apenas fazia sentido para nós usar materiais ecológicos, e usamos somente madeira e cortiça.
Quais são as experiências que disponibilizam para quem visita a Ecocubo?
Nós queremos que as pessoas possam ter uma experiência diferente em cada sitio onde haja um cubo. Assim, para além de poderem ter uma experiência distinta em cada cubo, podem ter uma experiência unica proporcionada pelos nossos parceiros locais.
Os cubos acabam por funcionar como referênciais no território, unindo-o, mas em cada lugar haverá sempre uma experiência diferente, porque cada sitio tem as suas particularidades, e queremos promover o que de melhor se faz em cada região, com algum grau de exclusividade, daí o facto de cada cubo também só dar para duas pessoas.
Onde é que a Ecocubo está presente?
Neste momento acabamos de apresentar um novo conceito que está em pleno parque nacional da Peneda-Gerês, em Terras de Bouro. É um conceito mais próximo do que queremos vir a proporcionar no futuro, e que faz a ponte entre o nosso primeiro cubo, que está em Cabeceiras de Basto, e as novas soluções que vamos implementar daqui em diante.
Quais os próximos passos para o futuro?
Para este ano pretendemos proporcionar mais experiências, em novos lugares, e começar a ligar outros territórios de norte a sul e ilhas. Acabamos de apresentar um novo conceito na BTL, e que seguramente será a nova fase da Ecocubo, mais próxima do tipo de experiências que queremos proporcionar a todos aqueles que procuram a natureza como forma de relaxar e para passar o seu tempo livre.
A nossa visão é podermos criar uma rede, a que chamamos de “Ecocubers”, que não é mais do que uma comunidade de pessoas que amam a natureza e querem viver, sentir e explorar a mesma ao máximo…E quando falo em explorar, falo no sentido da descoberta, da partilha, da emoção da aventura de descobrir um novo território.
E que concentra em si não só os locais onde estamos, funcionando como plataforma de divulgação desses locais, mas também promotor dos diversos agentes e parceiros que colaboram connosco, das suas actividades, e de todos os territórios onde estamos inseridos.
António Fernandes
Arquitecto e fundador da Ecocubo, licenciado pela ESAP-Escola superior artística do Porto, trabalhei em hotelaria na Suiça, sou um apaixonado por natureza, por viajar e por poder contribuir, de alguma forma, para o bem estar das pessoas.