Sob o tema “O Futuro Conduzido pela Inovação”, o propósito deste 19.º Encontro Anual Valorpneu foi apurar as novas tendências do setor, abordar os avanços na área do Ambiente, os objetivos que a Valorpneu se propõe a atingir no futuro e a melhor forma de disseminar as boas práticas no setor.
Hélder Pedro, Gerente da Valorpneu, deu as boas-vindas aos convidados e fez uma breve apresentação da Valorpneu enquanto entidade gestora com praticamente duas décadas de existência “que sempre cumpriu os seus objetivos e que desde o início da sua atividade tem como foco contribuir para a Economia Circular”. No entanto ressalva que: “Apesar de ao longo dos anos a Valorpneu ter promovido várias ações no que diz respeito a I&D e Inovação, com diversas instituições e com implementações práticas, enquanto entidade gestora a Valorpneu não consegue isoladamente concretizar todas essas ações com vista à reutilização de materiais que resultam da reciclagem e valorização de pneus”. Acrescentando que: “O apoio dos poderes públicos é fundamental e que, apesar de estar presente em muitas situações, deve ser reforçado”, dando o exemplo concreto da reutilização de matérias provenientes de pneus em fim de vida no pavimento rodoviário, um tema que está em cima da mesa há vários anos, mas que ainda não existe um normativo que promova essa reutilização.
A sessão de abertura ficou a cargo da Secretária de Estado do Ambiente, Inês dos Santos Costa referiu que “Hoje estamos a braços com uma crise conjuntural na área da energia e dos materiais, que se pode desenvolver para uma crise estrutural se não formos capazes de repensar o modelo de produção e de consumo em que assentámos o desenvolvimento nos últimos 100 anos”. Salientando ainda que: “É preciso paulatinamente integrar os princípios da economia circular em todo o sistema e não só no fim da linha. É necessário repensar estas organizações não apenas como entidades gestoras de pneus em fim de vida, mas como um farol de inovação circular para este tipo de material que já apresenta ameaças ao nível de escassez”.
Em 2021 a Valorpneu estima recolher mais 13.100 toneladas de pneus para além do seu objetivo, quantidade recolhida e tratada voluntariamente e que tem como destino a valorização energética. As 84.800 toneladas de pneus usados recolhidos evitam a produção de 127.000 toneladas de emissões de CO2eq.
O principal destino dos pneus recolhidos, dentro do limite do objetivo de recolha, é a reciclagem (78,2%), seguindo-se a valorização energética 17%), a recauchutagem (3,8%) e outras formas de valorização (1%).
No âmbito das atividades para garantir a sustentabilidade do setor, Climénia Silva destacou o programa de inovação NextLap, promovido em conjunto com a Recicladora Genan e com a consultora de inovação Beta-i, com vista a encontrar novas soluções para os materiais derivados da reciclagem de pneus usados e seus componentes.
Este ano verificou-se também uma evolução do número de produtores aderentes ao Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados (SGPU), com 2.050 aderentes. Neste âmbito foram realizadas as obrigatórias auditorias aos produtores e análise das medidas de prevenção.
A nível da rede transportes e valorização foi avançada uma novidade: o reconhecimento de Desempenho Anual do Transportador, com a entrega de jogos de pneus recauchutados para usar nas suas frotas. Este prémio tem em vista motivar, fomentar e dar a conhecer o setor da recauchutagem e a excelência dos seus produtos.
Como já vem sendo habitual nestes Encontros, realizou-se uma “mesa redonda” subordinada ao tema “A Inovação do Setor” onde foram debatidas as principais inovações e contributos para o setor dos pneus em fim de vida, onde mais uma vez foi destacado o programa NextLap, cuja primeira edição trouxe um contributo significativo na procura de soluções para estas matérias e, mais do que isso, criou um elo de ligação entre inovadores, empresários e a indústria, que era, de acordo com Climénia Silva, a componente que faltava neste tipo de programas, onde a Valorpneu foi pioneira em 2008 com o lançamento do Prémio Inovação, “quando ainda pouco se falava de economia circular”.
A Direção Geral das Atividades Económicas (DGAE) e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) falaram de regulamentação e destacaram a importância da inovação tecnológica e da colaboração em qualquer área de negócio, nomeadamente no setor dos pneus usados. A “Transição Digital” e “Transição Verde” são duas das áreas que fazem parte da atuação da DGAE e que constituem a estratégia atual para o crescimento da União Europeia (UE) e de Portugal. Neste contexto, o conceito de “eco-modelação” foi também sobejamente falado, na medida em que “discrimina positivamente os produtores”, fazendo com que privilegiem “materiais reciclados nos novos produtos”, deixando de fora as “substâncias e os materiais” mais poluentes, explica Fernanda Dias. Depois de uma edição totalmente virtual em 2020, a edição deste ano já se permitiu realizar num formato híbrido, trazendo alguma esperança e até evidências de alguma retoma do setor. O próximo ano será uma incógnita, mas com uma certeza e objetivo: encontrar soluções que contribuam para um melhor ambiente e para uma sociedade mais justa, mais resiliente, descarbonizada e que preserva o valor dos seus materiais.