Bom, bonito e barato, no geral é o que todos desejamos. Mas isso, no que se refere à roupa, é um pouco incompatível com um consumo sustentável, que não ponha em causa o planeta e as condições de trabalho de quem produz, não é?
Pode não ser! A Ana Lopes e Telma Santos criaram a reCloset, para venda e compra de roupa usada online.
No que consiste a reCloset?
A reCloset é uma plataforma online de moda em segunda mão, que procura dar novas oportunidades a roupa usada de mulher e homem. Além da loja online, disponibiliza também um Marketplace de moda em segunda mão, acessível a todos quantos pretendam vender as suas peças diretamente.
São duas jovens que se juntaram para fundar a reCloset. Que ocorrências na vossa vida levaram à criação deste projeto e porquê roupa usada?
A reCloset surgiu à mesa de um restaurante sustentável, numa conversa dominada pelas preocupações com o mundo, o ambiente, a sociedade, a educação das próximas gerações e a urgência de fazer algo que ajude a sociedade a mudar e a transitar. Para nós este projeto faz todo o sentido, por conectar todos os pontos, por mostrar que todos estamos ligados e que uma vida mais sustentável passa por muitas decisões. Somos duas amigas que têm em comum o interesse pela área da sustentabilidade.
Têm loja online e marketplace, quais as diferenças?
Na loja online, as peças estão do nosso lado e tratamos de todo o processo, desde a verificação das peças, à fotografia, colocação na loja online e envio aos Clientes, bem como todo o atendimento ao Cliente. O vendedor só tem de nos fazer chegar as peças e recebe uma comissão quando a peça é vendida.
No Marketplace, são as pessoas que colocam os anúncios diretamente, mediante a criação de uma conta gratuita. Quando a peça é vendida, são os vendedores que fazem o envio. No entanto, o pagamento da peça é feito no site, sendo a comissão paga por nós ao vendedor. Da nossa comissão, uma parte é entregue ao Movimento Lixo Zero Portugal, para apoio a dinâmicas ao nível pedagógico.
Qual o tipo de peças mais comum na reCloset? Há alguma peça que seja best-seller?
A reCloset é um projeto muito recente, tendo sido iniciado em setembro de 2020, pelo que não é possível ainda estabelecer o tipo de peças mais vendáveis. Até agora vendemos um pouco de tudo.
Qual o perfil de pessoas que habitualmente compra na reCloset?
Mulheres, entre os 25 e os 35 anos aproximadamente.
Diversos estudos referem que as pessoas, com a pandemia, ficaram mais conscientes sobre o seu consumo. Sentem esse impacto, ao nível de quem pretende vender e de quem pretende comprar?
Como indicámos, a reCloset já foi lançada em plena pandemia, pelo que não conseguimos estabelecer o comparativo com a situação anterior.
No entanto, notamos muitas pessoas com interesse em vender, o designado “destralhar”, o que possivelmente poderá estar ligado ao facto de terem maior disponibilidade para o fazer e repensar os seus comportamentos de compra.
O que fazem às peças da loja online que não conseguem vender?
Podem ser devolvidas aos vendedores, se assim o quiserem. Se não, entregamos a instituições de solidariedade, que dela necessitem. O mesmo acontece com peças que não cumpram com os nossos requisitos, e não possam ser vendidas na reCloset.
Que argumentos usariam para convencer alguém reticente a comprar roupa usada?
Existem duas grandes vantagens em comprar roupa em segunda mão.
A da sustentabilidade ambiental é, para nós, a maior motivação, dada a quantidade de roupa que se tornou descartável e vai parar a aterro todos os anos. Há também a questão da sustentabilidade social, nomeadamente ao nível da fast fashion, pois esta indústria tem padrões de empregabilidade pouco éticos, por se tratar de uma indústria de preços baixos e alta rotação.
Finalmente, e não menos importante para muitas pessoas, a questão da vantagem de preço, pois a roupa em segunda mão apresenta valores muito mais baixos, pois a roupa desvaloriza rapidamente.
Telma Santos e Ana Lopes
Fundadoras reCloset
Telma Santos
Nos últimos anos tem trabalhado maioritariamente com a grande distribuição na área de desenvolvimento de produto. Teve a sorte de encontrar na vida pessoas que a levaram a aprofundar os temas da sustentabilidade e resiliência das comunidades. Tudo começou com a Iniciativa de Transição em Telheiras em 2010 e, até hoje, nunca mais parou de querer saber mais e de mudar o estilo de vida um bocadinho todos os dias.
Ana Lopes
O percurso profissional foi sempre em contexto de multinacional, no setor automóvel, passando pela logística e marketing. A nível pessoal, despertou há uns anos para as questões da sustentabilidade, tendo começado a fazer adaptações ao seu estilo de vida e comportamentos de compra. E procurando sempre informação que lhe permitissem fazer melhores escolhas. Há cerca de 2 anos, lançou-se como profissional independente, prestando serviços na área de Marketing a pequenas empresas. A reCloset surge como o resultado entre a veia de Marketeer e empreendedora e a vontade pessoal de lançar um projeto que contribua de forma ativa para um consumo mais sustentável.