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Cada um de nós procura ser o melhor de si mesmo, incluindo no que consome. No entanto, a forma como sempre fomos impactados e estimulados a consumir, nas últimas décadas, e mesmo o modo como a nossa qualidade de vida imediata depende da gestão de custos e valorização do fator preço leva a que tenhamos dificuldade de incorporar um consumo sustentável na nossa vida. E o desconhecimento sobre o que é ser um consumidor sustentável também.

Assim, é legítimo questionarmo-nos: como posso começar a ser um consumidor sustentável?

Neste artigo vamos apresentar o que é um consumidor sustentável e 3 dicas para que inicie este caminhofugindo às sugestões relacionadas com a poupança de água e eletricidade em casa, que já todos vimos e são importantes, mas não alinham com o conteúdo do Green Purpose.

 

 

Ser Um Consumidor Sustentável

O primeiro facto para o qual deve estar alerta, no que se refere a um consumo sustentável, que é o oposto de um consumo desenfreado, é que 20% da população mundial é responsável por 80% do consumo global. Ou seja, um consumidor sustentável pondera não apenas o que consome, mas se consome. A um nível um pouco mais adiantado, extremado se assim o pretendermos definir, para a fase de maturidade em que estamos, pode ver o documentário “Minimalism: a documentary about the important things”, da Netflix. Se retirar uma ideia para aplicar, já estará a dar passos para ser um consumidor sustentável.

Uma das áreas onde é mais imperiosa esta ponderação (“será que necessito mesmo?”) é na moda. O fast fashion – pode perceber melhor no que consiste na entrevista a Maria Beatriz Costa que para conseguir responder a uma necessidade de consumo cada vez mais acelerada e a baixo custo, tem impactos ambientais e sociais elevadíssimos. O que, felizmente, já tem acontecido é um aumento da preocupação dos consumidores sobre as questões ambientais. Levando inclusive a que grandes marcas de fast fashion criassem linhas sustentáveis,  que, atenção, não é o mesmo que serem sustentáveis.

Porque a sustentabilidade tem 3 pilares: ambiental, social e económico, como a Inês Ribeiro da BoG – Environmental Consulting nos explica em entrevista.

Em paralelo à resposta das marcas de fast fashion, surgem cada vez mais marcas de slow fashion, que respeitam todos os princípios da sustentabilidade e são uma excelente opção para compra de roupa com maior durabilidade.

 

consumidor sustentável - slow fashion

 

Outro ponto é perceber o que implica um consumo sustentável, para que se possa tornar um consumidor sustentável. E é comprar:

Além disto, é importante compreender um conceito chamado value for money, que é o custo-benefício de uma compra. Normalmente, os produtos sustentáveis têm um custo superior, mas que se deve a alguns fatores que devem ser ponderados no momento da tomada de decisão. Nomeadamente:

  • Não tem economias de escala, que são obtidas com grandes volumes de produção. No fundo, permitindo aumentar as vendas, mas sem mexer nos custos fixos – como empregados, fornecedores de matérias-primas, etc, que se tornam reféns – e assim obterem maior rentabilidade de cada venda, mesmo com preços baixos.
  • As matérias-primas são mais escassas e sujeitas a tratamento, que têm um custo, mas asseguram uma maior sustentabilidade do planeta;
  • Durabilidade, que é obtida em consequência das melhores matérias-primas utilizadas, bem como de processos muito mais manuais e especializados do que as economias de escala;
  • Apoio à economia local e ambiente, por serem produtos na sua generalidade produzidos localmente, sem recurso a países de terceiro mundo onde os valores pagos pela mão de obra são muito baixos e que levam a longas e variadas viagens pelo mundo dos produtos, até chegarem a si com uma forte pegada ambiental;

Em forma de conclusão, o consumidor sustentável tem presente, em todos os seus momentos de compra, estas questões:

  • Preciso mesmo? Não poderei reutilizar algo que tenha?
  • Quais as matérias-primas utilizadas neste produto?
  • Quem fabricou? Foi remunerado justamente?
  • Quando deixar de usar, o que posso fazer com este produto?
  • O custo-benefício deste produto é ajustado?

 

 

Dicas Para Dar os Primeiros Passos Como Consumidor Sustentável

 

consumidor sustentável - partilha

#1 – Não seja fundamentalista.

Se pretender, imediatamente, ter um consumo absolutamente imaculado, encontrará frustrações e levará a que se culpe e perca a motivação. Lembre-se que existiu um consumo irresponsável e generalizado durante muitos anos, tendo sido o que nos trouxe ao ponto atual, pelo que qualquer mudança que faça entrará em choque com muitas das suas rotinas. Não será fácil. Tente inspirar-se nas dicas para mudar hábitos de consumo e vida da psicóloga Ana Rita Freitas.

#2 – Troque o fast pelo slow

Na comida o consumo desenfreado de carne tem levado a prejuízos ambientais muito superiores a andarmos de carro, como podemos ver no documentário Cowspiracy da Netflix ou na Grande Reportagem da SIC, do dia 02/01/2021, em que se apresentam os prejuízos do tipo de alimentação que temos, bem como soluções inovadoras para reduzir o impacto ambiental da produção de carne e pescas. Mas para começar com passos mais pequenos, pode seguir as dicas da Sara Oliveira, autora do livro Saudável e Sem Desperdício ou lendo a entrevista do Professor Duarte Torres sobre a Snood Food, os snacks com leguminosas.

Ainda na alimentação, olhar com mais atenção para os rótulos é fundamental para compreender o tipo de produto que está a comprar e se ele é saudável, para si e para o ambiente. Aconselhamos vivamente a que leia a entrevista à Milene Rodrigues, com o título “Sabe Ler Rótulos?”. Ficará muito mais alerta para a importância dos rótulos no nosso consumo.

Na moda, antes de comprar, pondere mesmo se necessita e, necessitando, adote marcas de slow fashion ao invés de fast fashion. São mais caras, em muitos casos, mas um dos pressupostos do slow fashion é garantir uma maior durabilidade do produto. Sabe o que é slow fashion? Está tudo explicado na entrevista à Inês Vaz.

#3 – Partilhe

É verdade, se optar por partilhar mais coisas, desde boleias a participar em trocas de roupa, estará a dar um enorme passo para ser um consumidor mais sustentável. O exagero é que nos trouxe ao ponto de rutura em que estamos. Reduzi-lo é dar passos para melhorar.

 

 

Conclusão  

Os primeiros passos são desafiantes, mas possíveis. Não falamos, num primeiro momento, de grandes mudanças de estilo de vida, mas sim de pequenos passos.

  • Pondere se precisa do que vai comprar
  • Analise as origens do produto e o seu rótulo
  • Opte por qualidade e durabilidade em vez de quantidade e preços baixos

Com estes 3 fatores, já se começou a tornar um consumidor sustentável.

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Slow fashion é um conceito relativamente conhecido, mas nem sempre bem compreendido. Fomos entrevistar a Inês Vaz, que acabou de realizar uma tese sobre Slow Fashion, para nos explicar o que é slow fashion e o que uma empresa da área da moda necessita incorporar para ser verdadeiramente sustentável. 

 

o que é slow fashion

 

O que é Slow fashion?

O slow-fashion (moda lenta) representa um movimento sustentável na indústria da moda. Este movimento junta alguns conceitos antecessores como moda sustentável e moda ética, utilizando o mesmo ideal do já conhecido método de cozinha lenta, o Slow-Food.

Neste sentido, não se reduz apenas à preocupação com questões ambientais, como o conceito de moda sustentável, nem apenas à consideração sobre questões sociais, como o conceito de moda ética, juntando também o desaceleramento do processo de produção e consumo destes artigos.

O objetivo é apostar na produção local e ética de artigos de moda com maior qualidade e durabilidade, de modo a promover a diminuição do seu consumo e descarte, onde no final da sua vida também possam ser reutilizados, reciclados ou reproduzidos. 

 

Pretende contrariar os impactos sociais e ambientais negativos desta indústria, como a exploração dos trabalhadores nas suas fábricas, intituladas, a depleção de recursos naturais, emissão de gases com efeito de estufa e poluição do ar e água

Como começou este “movimento”?

O movimento de Slow-Fashion surgiu em 2007 aliado a uma necessidade urgente de se mudar não só as estratégias e práticas das empresas presentes na indústria da moda como também alterar o pensamento e comportamento dos seus consumidores, no sentido de garantir a sustentabilidade do planeta.

Tal como o nome indica, este movimento pretende contrariar os impactos sociais e ambientais negativos desta indústria, como a exploração dos trabalhadores nas suas fábricas, intituladas de sweatshops (fábricas do suor), a depleção de recursos naturais, emissão de gases com efeito de estufa e poluição do ar e água, estando estes impactos associados principalmente ao modelo de moda rápida, conhecido como Fast-Fashion. Este último modelo promove também uma mudança frequente dos artigos nas lojas, como uma resposta rápida aos constantes novos desejos dos consumidores, sendo assim a indústria da moda identificada como uma das mais poluentes e menos éticas, com foco no crescimento económico e maximização da margem de lucro. 

 

slow fashion

 

Os consumidores estão a aderir a este conceito?

Em resultado dos desafios ambientais e sociais que o planeta enfrenta atualmente e que comprometem a sua sustentabilidade, um número crescente de consumidores encontra-se preocupado com estas questões e consequentemente a aderir a movimentos que garantem a satisfação das necessidades presentes sem comprometer as futuras, como é o caso do Slow Fashion. Assim, para além de se verificar uma mudança da mentalidade deste consumidor com a procura de qualidade em detrimento da quantidade, também se assiste a uma mudança comportamento, com a crescente procura de opções em segunda mão, aquisição de artigos de produção local e que garantem condições justas para os seus trabalhadores e valorização de materiais orgânicos e recicláveis. Para além disto, estes consumidores estão também a exercer uma pressão crescente sobre as empresas presentes nesta indústria, para que estas alterem as suas estratégias e práticas.

O que te motivou a fazer uma dissertação de mestrado sobre este tema?

Do ponto de vista pessoal, a sustentabilidade é um tema que me interessa bastante. Isto porque acredito que o futuro do planeta não está só nas mãos das grandes empresas e organizações, mas está também dependente de cada um de nós.

Em seguida, escolhi aplicar sobre a indústria da moda porque, como disse anteriormente, é uma das mais poluentes e menos éticas, onde as empresas Fast-Fashion têm sido as principais culpadas. É urgente mostrar o processo que está por trás dos artigos que vemos expostos nas lojas e quais são os seus impactos negativos para o planeta.

Para além disso, do ponto de vista empresarial, a sustentabilidade é uma das principais tendências do marketing. E o meu estudo, para além de pretender mostrar a urgência de mudarmos os nossos comportamentos como consumidores, tem também como principal objetivo demonstrar às empresas a urgência de alterarem as suas estratégias e práticas não só no sentido de contribuírem para o alcance das metas de sustentabilidade, mas também para sobreviverem nesta indústria cada vez mais competitiva.

 

É importante não confundir “linhas sustentáveis” com o real conceito de sustentabilidade, uma vez que a maioria destas empresas não garante um verdadeiro equilíbrio das dimensões ambiental, social e económica.

 

Quem é o consumidor orientado para o slow fashion? Como se caracteriza?

O consumidor orientado para o Slow Fashion mostra preocupação com questões ambientais e sociais na indústria da moda, atribuindo maior importância à maneira como os produtos são produzidos e preferindo técnicas artesanais, produção e comércio local em pequena escala.

Para além disso, tem preferência por desenhos mais simples e versáteis que não seguem tendências, escolhendo os artigos com base nas suas reais necessidades.  Estes consumidores sentem-se também mais atraídos por edições limitadas que lhes permitam uma maior capacidade de autoexpressão.

 

Algumas marcas de fast fashion estão a desenvolver linhas sustentáveis. Como interpreta esta tendência?

Algumas marcas de Fast-Fashion, no sentido de agradar a estes consumidores cada vez mais exigentes e preocupados, encontram-se a adotar práticas como o desenvolvimento de linhas “sustentáveis”. Contudo, é importante não confundir estas práticas com o real conceito de sustentabilidade, uma vez que a maioria destas empresas não garante um verdadeiro equilíbrio das dimensões ambiental, social e económica.

Isto acontece porque apesar de desenvolverem linhas com artigos compostos por materiais mais sustentáveis, o conceito de Fast-Fashion continua a focar-se na dimensão econômica, com a redução de custos e aumento de lucro, sem preocupação com os impactos sociais e ambientais negativos que possa advir dessa filosofia.

Para além disto, para que possam ser sustentáveis estes produtos têm também de garantir que em todas as fases do seu ciclo de vida – produção de recursos e matérias primas, extração, lavagem, tratamento, tingimento, tecelagem, montagem, transporte, distribuição, compra, uso e descarte – todos os impactos sociais e ambientais são minimizados, o que não acontece na maioria destas empresas. Estas práticas são assim entendidas como Greenwashing – onde o objetivo é passar uma imagem ambiental positiva perante a opinião pública, ocultando e desviando a atenção dos impactos negativos gerados pelas mesmas.

 

buy less

 

Que marcas de slow fashion são um bom exemplo, para ti, deste conceito?

O número de marcas de Slow Fashion tem aumentado bastante ao longo dos anos, com o exemplo das marcas portuguesas Siz e Miss Castelinhos Handmade, onde os artigos são feitos de fibras naturais e orgânicas e material reutilizado, em pequena escala, manualmente e localmente.

 

Quais as principais conclusões do teu estudo sobre Slow Fashion?

Com o meu estudo conclui-se que o grupo de consumidores com um médio a alto nível de orientação para o Slow Fashion tem uma dimensão significativa na amostra utilizada, sendo que esta dimensão representa um motivo de mudança das organizações no sentido de alcançar as metas de sustentabilidade e atender a este número elevado de consumidores.

Foi também possível verificar que são as mulheres com mais de 54 anos que possuem uma maior orientação para este movimento.

Para além disso, os consumidores deste grupo demonstram possuir valores ambientais, como proteção do meio ambiente e prevenção da poluição, valores altruístas, como paz no mundo e igualdade, crenças negativas associadas a horas excessivas de trabalho e trabalho infantil, e por fim, crenças negativas sobre questões ambientais na indústria da moda.

Por último, pode-se concluir que quanto maior a orientação do consumidor para o Slow Fashion maior a sua intenção em comprar estes produtos. Contudo, verifica-se um desfasamento entre as duas variáveis, sendo que uma orientação elevada nem sempre se pode traduzir em intenção de compra.

 

Com a pandemia, o que acreditas que vai mudar no mundo da moda? Os consumidores serão mais conscientes do que compram e a quem compra?

Uma das tendências que se tem verificado com a pandemia é a procura crescente por artigos de produção local, existindo assim uma maior preocupação em apoiar o comércio tradicional face ao grande consumo e a empresas de Fast-Fashion.

Para além desta questão, existe também uma maior consciência com o tipo de material utilizado nos artigos de moda, no sentido de uma maior preocupação com a saúde. O e-Commerce na indústria da moda é também uma tendência crescente, o que ao nível de sustentabilidade pode não se traduzir na melhor opção, uma vez que implica mais uma fase de transporte com consequentes impactos ambientais negativos.

Inês Vaz

Tem 24 anos e é uma apaixonada por Marketing, área que escolheu para realizar o seu mestrado. É também licenciada em Gestão e atualmente junta estas duas áreas profissionalmente, estando na função de Retail Marketing & ECommerce Assistant na Colgate-Palmolive.

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