CTT: Contributo do setor postal para o combate às alterações climáticas – Maria Rebelo

por Marta Belchior

Maria Rebelo, Diretora de Sustentabilidade dos CTT, mostra-nos como a empresa tem uma atitude contínua de envolvimento, transparência e compromisso com o ambiente e com as pessoas.

A CTT assume um compromisso cada vez maior com a sustentabilidade e responsabilidade social. De que forma contribuem para isso?

A adoção de um compromisso cada vez maior com a sustentabilidade é uma prioridade dos CTT, em resposta à crescente expetativa das diferentes partes interessadas quanto ao desempenho da empresa nas dimensões ambiental, social e de governação (ESG).

Nos CTT, iniciámos o nosso percurso de gestão carbónica há mais de uma década e olhamos com expetativa para o futuro, sabendo que a transição energética é hoje um tema incontornável para o setor dos transportes e logística. O compromisso dos CTT com o combate às alterações climáticas é visível em toda a organização e tem um impacto contínuo nas operações diárias e no nosso modelo de negócio.

Além da ação climática, o programa de sustentabilidade dos CTT está também alinhado com os objetivos de desenvolvimento sustentável prioritários para o setor e para a cadeia de valor dos CTT, abrangendo oito áreas globais de intervenção, como a saúde e o bem-estar, a aprendizagem e desenvolvimento do capital humano e o apoio ao desenvolvimento sustentável das cidades e do território, entre outras. Pretendemos contribuir para a resposta aos desafios da sociedade e para o bem comum.

 

As questões ambientais, nomeadamente de eletricidade, água e resíduos, são um desafio para gerir e. Que estratégias internas a CTT têm implementado e que resultados têm obtido?

É importante definirmos prioridades alinhadas com as expetativas das nossas partes interessadas e para cada uma das áreas prioritárias definirmos objetivos e ações concretas. Neste sentido, temos vindo a percorrer o nosso percurso de gestão carbónica e, como resultado, superámos largamente a meta de redução carbónica a que nos propusemos para 2020 e avançámos com novas metas de redução, aprovadas pela Science Based Target Initiative, para 2025.

Que tipo de cuidados têm definidos para os vossos colaboradores e que importância têm estas ações num Plano de Sustentabilidade?

A sensibilização e o envolvimento dos colaboradores CTT para a adoção de comportamentos mais sustentáveis é fundamental. Somos mais de 12 mil pessoas CTT, temos mais de 7500 pontos de contacto com clientes e percorremos anualmente cerca 65 milhões de quilómetros, aos quais acrescem outros tantos percorridos por subcontratados. É importante olharmos primeiro para dentro, criarmos o nosso caso de estudo.

Assim, a comunicação interna dos temas da sustentabilidade toma especial relevância e é feita regularmente, em vários canais com conteúdos adaptados para os diferentes públicos internos.

Temos também como foco a formação interna dos colaboradores e a dinamização de iniciativas que estimulem a cidadania participativa. Como exemplo, convidamos anualmente os colaboradores CTT a participar nas plantações da campanha “Uma Árvore pela Floresta”, dos CTT e da Quercus, que tem um carácter de sensibilização para a proteção da floresta e visa reflorestar o território nacional. É com satisfação que verificamos que esta e outras ações do tipo têm sido bem recebidas pelo público interno.

 

As emissões de poluentes atmosféricos da CTT devem-se sobretudo ao transporte próprio e subcontratado que fazem, que são responsáveis pela quase totalidade da vossa pegada carbónica. Que estratégia adotaram para contornar essa situação?

O nosso programa de sustentabilidade dos CTT está alinhado com a ambição global de limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2ºC até 2030. Definimos metas de redução carbónica ambiciosas, que incluem o impacto da nossa atividade direta e indireta. Identificámos as principais alavancas de atuação para conseguirmos atingir as metas assumidas, tendo já atingido uma redução expressiva na pegada carbónica global de 27% face a 2013.

Além de adquirimos 100% da eletricidade proveniente de fontes renováveis, fazemos uma procura ativa por soluções energeticamente mais eficientes e menos poluentes, estando atualmente a apostar na aceleração da eletrificação da nossa frota própria. Além da vertente tecnológica, também a formação das 12 mil pessoas CTT é fundamental para a adoção de comportamentos mais responsáveis. Esforçamo-nos todos os dias por melhorar a eficiência energética e o desempenho carbónico dos CTT.

No âmbito da atividade subcontratada, o caminho é indireto e, consequentemente, mais demorado, mas não menos relevante.  Definimos uma Política de Compras Responsáveis, promovemos a adoção dos requisitos nela preconizados através do processo de qualificação de fornecedores e introduzimos critérios ambientais de adjudicação em processos de compra críticos. Acreditamos que podemos influenciar positivamente aqueles que colaboram connosco e estamos confiantes que à medida que o foco na sustentabilidade ao longo da cadeia de valor aumenta, maiores serão as oportunidades para reduzirmos as emissões carbónicas globais.

As embalagens ecológicas e as tintas amigas do ambiente são algumas das vantagens do Correio Verde. Conseguem estimar o impacto que tem para o ambiente optar pelo Correio Verde?

Os materiais utilizados na produção do Correio Verde e o design dos respetivos produtos foram adaptados, em 2010, de forma a minimizar o seu impacte ambiental.  Desde então, além da característica de conveniência (não necessitar de pesar, nem de selar), o Correio Verde apresenta-se no mercado com uma identidade ecológica.

Os envelopes e as caixas de Correio Verde são produzidos com papel 100% reciclado, em substituição do papel, dito, “comum”, o que resulta num impacto bastante positivo quanto ao uso de matérias-primas virgens. Estima-se uma poupança média anual superior a 600 toneladas de papel comum na produção destes produtos. A cor natural destes materiais é preservada para os vários produtos, reduzindo ao mínimo a quantidade de tinta utilizada na cobertura. É ainda relevante referir que as emissões carbónicas resultantes da atividade direta dos CTT, associadas à logística e distribuição dos objetos de Correio Verde, são compensadas anualmente com recurso a projetos com benefícios ambientais e sociais.

 

Ainda relativamente ao Correio Verde, como tem sido a adesão por parte das pessoas ao optar por esta escolha mais ecologia?

Ao contrário dos outros produtos de correio, a gama Correio Verde tem verificado um desempenho consistentemente positivo ao longo dos anos, sendo os dois fatores que os consumidores mais valorizam a flexibilidade na utilização e a proteção ambiental.

Costumo dizer que o Correio Verde é o produto ecológico “pai”, na medida em que foi o primeiro produto CTT pensado com características que minimizam o impacto ambiental da sua produção e distribuição, mas, desde então, temos vindo a desenvolver e a alargar estas preocupações ambientais a outras ofertas de produtos e serviços CTT.

Recentemente, inovámos no embalamento das encomendas online. Em julho de 2021, lançámos um projeto piloto de embalagens reutilizáveis, no distrito de Lisboa, em colaboração com dois e-sellers portugueses. Estas embalagens têm uma capacidade de resistência prevista até 50 envios. Cabe, agora, a cada um de nós que receber uma Embalagem CTT ECO Reutilizável devolvê-la aos CTT, para que esta cumpra o seu propósito e reinicie um novo ciclo de envio. Ao permitir um sistema de reutilização, acreditamos que esta embalagem constitui um passo importante no apoio à transição para uma economia circular, com particular impacto num mercado em expansão como o do e-commerce.

Os e-buyers, em Portugal, têm vindo a afirmar a sua preferência por embalagens recicláveis e um estudo recente do IPC – International Post Corporation indica que o futuro das encomendas online passará pela utilização de embalagens reutilizáveis. Assim, antecipámos as necessidades dos nossos clientes e parceiros ao queremos fazer parte da solução.

Através do Programa Mobilidade Sustentável começaram a medir a vossa pegada ecológica. Sendo que em 2018, os veículos elétricos da CTT correspondiam a 9% do total da frota, qual o impacto desta mudança?

Os CTT são uma empresa pioneira na incorporação de veículos elétricos na sua frota automóvel, em Portugal. Temos vindo a expandir gradualmente a nossa frota alternativa, composta maioritariamente por veículos elétricos, o que resulta num impacto positivo na eficiência carbónica dos CTT ao consumirmos 100% de eletricidade proveniente de fontes renováveis.

Com resultado deste percurso, em meados de 2020, lançámos o serviço de Entregas Verdes, disponível para clientes empresariais, que permite que as entregas nas áreas contratadas sejam realizadas exclusivamente com veículos elétricos CTT. Este é um serviço que tem despertado a atenção da nossa carteira de clientes.  Iniciámos o serviço numa área restrita na cidade de Lisboa. Entretanto, já expandimos para outras zonas da capital e também para a cidade do Porto, sendo que a nossa expetativa é poder vir a oferecer este serviço a nível nacional, no futuro.

Acompanhamos a evolução do mercado de veículos elétricos com entusiasmo e pretendemos acelerar a eletrificação da nossa frota de distribuição no curto prazo. Já em 2022 iremos efetuar um reforço de mais 73 veículos elétricos de distribuição, que nos permitirá atingir cerca de 1,5 milhões de quilómetros elétricos percorridos e mais de 300 toneladas de CO2 evitadas.

Além dos impactes positivos ao nível do ruído e da qualidade do ar, a opção pela eletrificação da frota traz também outras vantagens, nomeadamente um maior conforto na condução por parte dos carteiros e expedidores que todos os dias percorrem as ruas das cidades portuguesas com os veículos elétricos CTT.

 

Procuram ir além do que vos é pedido. Quais os próximos passos para a CTT atingir uma economia net zero?

Almejamos alcançar uma distribuição na última milha livre de emissões carbónicas, que resulte num impacto positivo nas cidades portuguesas e na qualidade de vida das populações. Para tal, continuaremos a apostar na aceleração da eletrificação da frota própria e no consumo de energia proveniente de fontes renováveis. A colaborar com parceiros na procura e implementação soluções dinâmicas, inovadoras, que otimizem a utilização dos recursos disponíveis e promovam uma logística urbana mais sustentável. A promover comportamentos responsáveis junto dos nossos colaboradores e fornecedores, que minimizem a poluição do ambiente.

Orgulhamo-nos em ser uma empresa com 500 anos de história, que já passou por vários processos de adaptação e que inovou mantendo o foco na proximidade à população. Continuaremos a percorrer o nosso caminho, com uma estratégia de sustentabilidade no centro das prioridades da empresa, que crie valor para os colaboradores CTT e para os stakeholders externos. Queremos ser mais rápidos, melhores e mais verdes.

Maria Rebelo

Licenciada em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL e pós-graduada em Gestão da Sustentabilidade pelo ISEG e em Gestão Empresarial pelo INDEG-ISCTE. Com 15 anos de experiência na área do reporte de sustentabilidade e da gestão de projetos ambientais e de proficiência carbónica, desenvolveu a sua atividade maioritariamente nos CTT. Atualmente, é Diretora de Sustentabilidade dos CTT, tendo como principal missão delinear e impulsionar a implementação do respetivo programa de sustentabilidade.

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