Conversamos com Pedro Santos, um dos fundador da White Stamp (uma plataforma que promove a economia circular), sobre a necessidade de massificar hábitos de consumo circulares na indústria da moda.
Como surge a ideia de criar a White Stamp e qual a origem do nome?
A ideia de criar a White Stamp surgiu com a conjugação de dois elementos:
- Necessidade pessoal – tal como para um grande número de consumidores, os nossos roupeiros estavam repletos de artigos em perfeitas condições para continuarem a ser utilizados mas, estação após estação, permaneciam parados. Embora a doação seja uma solução extremamente nobre, por vezes sentimos que muitos desses artigos podiam ser capitalizados. No entanto, o processo inerente à venda nas plataformas existentes é demorado e não oferece garantias de sucesso.
- Propósito – fazemos parte de uma geração que quer adicionar valor e fazer melhor do que se fazia no passado. Hoje, que temos o conhecimento e as ferramentas para o fazer, seria quase irresponsável não tentar! Assim, embarcámos na missão de criar uma solução simples, rápida e segura para capitalizar os artigos de moda parados nos roupeiros de todos nós.
A White Stamp, como conceito, passou por várias fases até se tornar no que é hoje. No entanto, uma ideia era comum às diferentes versões: a colaboração é fundamental para aumentar a probabilidade de sucesso na construção de um futuro melhor. Este “carimbo” é a nossa forma de juntar aqueles que acreditam que podemos fazer mais na luta contra o desperdício têxtil.
A White Stamp é uma plataforma que contribui para a economia circular. Fale-nos um pouco sobre o Programa SELL 1 BUY 1, e como é que as pessoas podem aderir a este conceito.
Estima-se que cada Europeu tenha, em média, um pouco mais de 1,000€ parados no roupeiro. De acordo com o nosso trabalho de pesquisa, 96% dos consumidores gostaria de vender estes artigos com mais frequência, mas apenas 7% o faz. O motivo para este número tão baixo explica-se pela complexidade, tempo e incerteza inerentes às soluções atuais. Num mundo em que o tempo livre é uma commodity rara, fotografar artigos, descrevê-los em detalhe, negociar, partilhar dados pessoais e marcar encontros com potenciais interessados – tudo isto sem garantia de sucesso na venda – torna a venda de artigos usados pouco apetecível.
O programa Sell 1 Buy 1 resolve estes problemas associando a experiência de revenda ao momento de compra. Através deste programa, é possível trocar artigos de moda que já não utilizamos por crédito para descontar nas marcas aderentes ao programa (e.g. Havaianas, Play Up, Näz, Armazém das Malhas).
Para tal basta:
- Aceder ao website de qualquer marca aderente ao programa e clicar no botão “Sell 1 Buy 1” que se encontra no menu principal;
- Completar 8 campos de descrição pré-preenchidos (e.g. marca, tamanho, estado) – após este momento será apresentada a cotação que oferecemos pelo artigo; 3) Optar por recolha gratuita ou entrega gratuita (em qualquer loja/ponto CTT).
Os artigos são verificados assim que chegam até nós e o crédito fica imediatamente disponível para ser utilizado.
O cliente só precisa de:
- Aceder à página Sell 1 Buy 1 da marca aderente onde pretende utilizar o crédito;
- Criar um código de desconto com o crédito disponível;
- Inserir o código de desconto no carrinho de compras da marca aderente.
Se queremos promover o hábito de vender usado sempre que se compra novo, é essencial tornar o processo o mais simples e “user friendly” possível. É por esse motivo que acreditamos que o acesso deve ser feito, essencialmente, por via das marcas que já fazem parte da rotina de consumo do utilizador. É também por isso que, mais do que da White Stamp, o programa Sell 1 Buy 1 é das marcas aderentes.
Nota: Lista completa de marcas aderentes ao programa Sell 1 Buy 1 aqui.
Qual tem sido a adesão à plataforma por parte das pessoas?
O feedback e adesão registados até ao momento têm superado todas as expectativas, com taxas de crescimento muito significativas desde a data de lançamento do programa (final de 2020).
Na perspetiva das marcas, o processo de adesão é muito simples – em menos de 1 dia conseguimos ter o programa operacional. Simultaneamente, não há qualquer custo associado à manutenção, que é feita essencialmente pela White Stamp. As marcas aderentes ganham acesso a um programa que promove a circularidade sem necessitarem de ajustar o modelo de negócio ou alocarem tempo e recursos à sua implementação/manutenção.
O conceito de oferecer um desconto com propósito é algo muito apelativo para as marcas, na medida em que, cada vez mais, está alinhado com o seu ADN e, simultaneamente, vai ao encontro das exigências do consumidor atual (85% dos Millennials acredita que é muito importante que as empresas implementem programas que promovam a sustentabilidade ambiental).
Para as pessoas, o programa Sell 1 Buy 1 resolve o problema da acumulação de artigos parados no roupeiro, ao mesmo tempo que promove a adoção de práticas de consumo mais conscientes e sustentáveis, associando um desconto com um propósito nas suas marcas de moda favoritas.
A Havaianas juntou-se recentemente à White Stamp. No que consiste esta parceria?
A parceria com a Havaianas funciona nos mesmos moldes que qualquer outra marca aderente ao programa Sell 1 Buy 1. Ou seja, o utilizador pode trocar artigos usados por crédito para descontar em compras na Havaianas. Para tal, basta aceder ao website da Havaianas, clicar no botão Sell 1 Buy 1 e seguir os passos apresentados.
A Havaianas tem, efetivamente, uma projeção internacional e um nível de maturidade que nos permite explorar outras oportunidades – algo que está a ser explorado e testado e que, a seu tempo, será certamente implementado.
De momento, o foco passa por garantir que a experiência proporcionada ao utilizador excede as suas melhores expectativas, promovendo uma utilização regular do programa.
Para além do core business, participam em mais alguma iniciativa que promova a sustentabilidade ambiental?
A reutilização, complementada com a consciencialização, é a principal solução da White Stamp para a poupança de recursos naturais escassos. Mais de 90% dos artigos que chegam até nós são reintroduzidos no mercado de 2ª mão através de parceiros que operam nesta área. No entanto, nem todas as peças que recebemos cumprem com os critérios de venda do mercado de segunda mão. Por este motivo, estabelecemos parcerias que permitem adiar ao máximo o descarte precoce ou a reciclagem de artigos em menos bom estado, como sejam a doação ou o reaproveitamento de tecidos para a criação de têxteis para o lar.
Simultaneamente, estamos ativamente a trabalhar no desenvolvimento de sinergias (desde a consultoria especializada à produção) que nos permitam apresentar soluções a todos os participantes do ecossistema Sell 1 Buy 1 interessados em fortalecer a circularidade dos seus negócios.
Quais são os próximos passos para a White Stamp?
Criar o hábito de vender usado sempre que se compra novo é a ambição principal da White Stamp. No entanto, para que essa dinâmica exista, é essencial que o programa esteja disponível nas marcas que compõem a rotina de compra dos consumidores. Por isso, a criação de novas parcerias é algo que estará sempre presente nos nossos planos.
Para exponenciar o crescimento deste ecossistema, estamos a trabalhar em “1-click solutions”, o que tornará a integração em marcas parceiras ainda mais rápida e o funcionamento do programa ainda mais intuitivo.
Em simultâneo, porque acreditamos que esta é uma proposta que se enquadra muitíssimo bem num segmento crescente de consumidores, passa pelos nossos planos apostar de forma estruturada noutros mercados europeus, sendo que Espanha e Alemanha são dois países estrategicamente relevantes para a White Stamp.
Pedro Sobral Santos
Após licenciatura em Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa e Pós Graduação em Finanças pela mesma instituição, Pedro Santos seguiu para Londres acompanhado de ambição e inocência. Na altura o contacto com a moda ficava-se pela ótica do consumidor, mas a obsessão pela otimização e inovação sempre estiveram no ADN. O percurso de quase 10 anos em Inglaterra passou sempre pela banca (Santander UK e Lloyds Banking Group) em áreas como Estratégia e Customer Insights. O regresso a Portugal deu-se em 2018 com o objetivo de total dedicação à conceção e desenvolvimento da White Stamp.